GRANDE PROBLEMA – Revista VEJA detalha situação atual da Unimed




O Fluminense seguiu sua vida. A Unimed está sofrendo... (Foto: Vinicius Toledo / Explosão Tricolor)
O Fluminense seguiu sua vida. A Unimed está sofrendo… (Foto: Vinicius Toledo / Explosão Tricolor)

Revista Veja x Celso Barros (Agora é na retranca – por Cecilia Ritto e Thiago Prado – Negócios – Revista Veja 2434)

Com uma portentosa carteira de mais de 1 milhão de clientes, a Unimed Rio de Janeiro, a maior operadora de planos de saúde do estado e a oitava do Brasil, já foi a porção mais saudável do conglomerado de cooperativas médicas que compõe a Unimed Brasil. Não é mais, e, segundo analistas do setor, os graves problemas que enfrenta decorrem em boa parte dos gastos excessivos do seu presidente, o médico Celso Barros, 62 anos — dentro e, principalmente, fora da empresa.

Torcedor fanático do Fluminense; Barros despejou no time nada menos que 225 milhões de reais em patrocínios que começaram pouco depois de ele assumir a presidência do clube, em 1998, e duraram quinze anos. Com essa quantia, contratou dezenas de craques, conquistou títulos e, ao mesmo tempo, sangrou a Unimed além da sua capacidade. No começo deste ano, com a operadora mirando a bancarrota, Barros orquestrou na Justiça uma tábua de salvação tão imprópria quanto sigilosa, a cujo trâmite VEJA teve acesso: sacou 350 milhões de reais de um fundo gerido pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) que tem por função garantir aos clientes serviços em caso de quebra de operadoras — algo inédito no universo dos planos de saúde. Agora, a ANS pôs um homem de confiança na Unimed para garantir que o fundo seja ressarcido, e o presidente da operadora começou, enfim, a tomar providências para arrumar as finanças.

Criado em 2001, a Peona, como é chamado o fundo, acumula 8 bilhões de reais em reservas, fruto de depósitos obrigatórios por parte das operadoras. Até hoje, quarenta planos de saúde tentaram usar uma parcela dos recursos em momento de dificuldade. Deles, 39 saíram de mãos abanando — a ANS negou o dinheiro. Também Barros ouviu um não, mas foi aos tribunais e obteve autorização para o saque. A agência recorreu ao Superior Tribunal de Justiça. Perdeu. Restou à ANS tentar assegurar que o fundo seja reembolsado. Foi por isso que nomeou em março uma espécie de interventor — sem usar o termo — para supervisionar o caixa. O tamanho do rombo da Unimed carioca ficou, então, evidente.

Só à prefeitura do Rio, a operadora devia mais de 1 bilhão de reais em imposto sobre serviços (ISS); com a  Receita Federal, a dívida batia em 200 milhões. Médicos e hospitais também reclamavam da falta de pagamento.

Segundo balanço da agência de classificação de risco Fitch, divulgado em abril, o déficit total da Unimed-RJ é de 1 bilhão de reais, resultado de maus investimentos, aí incluído o patrocínio ao Fluminense, encerrado em dezembro passado, e de outros gastos que se provaram equivocados. Um deles foi a compra da carteira de 160 mil usuários da Golden Cross em 2013, que obrigou a Unimed-RJ a ampliar o atendimento para além da cidade do Rio — expansão para a qual não estava preparada. Justamente nessa época a empresa passou a ocupar a primeira posição no ranking de queixas de beneficiários de planos de saúde.

Outra decisão malograda foi a de investir 200 milhões de reais em um hospital próprio na Barra da Tijuca, Zona Oeste carioca. Inaugurado em 2012, ele nunca deu lucro. Com os problemas expostos, Barros contratou um executivo de fora, Alfredo Cardoso, para arrumar as contas da cooperativa. A dívida com a prefeitura foi reestruturada e o hospital está à venda por 400 milhões de reais. “Agora estamos preparando um plano para repor o fundo da ANS. Teremos uma proposta pronta até setembro. Os usuários podem ficar tranquilos”, afirmou Cardoso a VEJA. Para Barros, um gastador emérito, não será fácil adaptar-se aos novos tempos de austeridade.

O recém-lançado livro do ex-diretor de futebol do Fluminense Jackson Vasconcelos, “O Jogo dos Cartolas”, lembra uma frase muito repetida pelo grande mecenas do Fluminense: “No futebol não tem essa história de pagar dívida. No futebol se ganha campeonato”. Ele sempre abriu largo sorriso quando a torcida pedia a volta de algum ídolo aos gritos de “o Celso vai te comprar”. Dono de uma casa avaliada em 10 milhões de reais na Barra da Tijuca, dois carros blindados e um barco, o presidente da Unimed-RJ também é de tratar muito bem os amigos. Há cerca de cinco anos, reuniu a nata do Judiciário do Rio em um hotel em Angra dos Reis, com comida e bebida liberadas.

“Tudo do bom e do melhor”, lembra um advogado convidado. Com esse currículo, gastar menos vai ser um duro aprendizado.

Por Explosão Tricolor / Fonte: Veja