Ídolo na Rússia, Maurício fala com carinho do Fluminense




O jornalista Fred Huber, do portal Globoesporte, encontrou o volante Maurício, revelado no Fluminense e que foi vice-campeão da Taça Libertadores 2008 com a camisa tricolor. Há cinco anos no Terek Grozny, da Rússia, o volante Maurício, atualmente com 26 anos, guarda com carinho os momentos em que viveu no clube onde se profissionalizou, o Fluminense. A recordação mais especial, claro, é da disputa da Libertadores de 2008. Como esquecer da vitória de que participou contra o São Paulo, com o gol da Washington aos 46 do segundo tempo no Maracanã lotado? Como tinha a função mais de marcar, Maurício marcou poucos gols com a camisa do tricolor, mas foram em clássicos como o Fla-Flu. Contra o São Paulo, marcou o mais bonito deles em um chute de longe de perna esquerda que entrou no ângulo. Adaptado na Rússia, o volante não tem pressa para retornar, apesar de ter o Brasil nos planos. A grande vontade agora é disputar algum dos principais campeonatos da Europa.

– Quando decidi sair do Fluminense fui com um único pensamento: de vencer. Chegar na Rússia e não bater e voltar para o Brasil. Procurei fechar os olhos para as dificuldades e seguir em frente. Assim que cheguei, comecei a pesquisar o alfabeto e ficar próximo dos companheiros que falavam russo – disse o jogador.

Confira a entrevista completa com Maurício:

Qual a principal lembrança que você tem da passagem no Fluminense?

Maurício: Foi a vitória sobre o São Paulo por 3 a 1, na Libertadores de 2008, foi emocionante. Nunca esqueço daquele jogo.

Você teve um início promissor, fez gols jogos importantes… O que lembra disso?

Na época o Renato Gaúcho me subiu para o profissional, sempre me deu todo apoio pra fazer meu melhor. Isso me dava confiança para tentar ajudar o time. Sempre jogava com o Renato, tinha muitas oportunidades. Foram quatro anos muito bons, subi muito jovem, com 17 anos para 18 anos. Foram bons anos.

Não é comum um jogador ficar tanto tempo no futebol russo, pois existe uma dificuldade grande com adaptação. Qual é o segredo?

Quando decidi sair do Fluminense fui com um único pensamento: de vencer. Chegar na Rússia e não bater e voltar para o Brasil. Cheguei muito focado, com a cabeça centrada, com apoio da família, da esposa, que sempre fica lá comigo nessa luta. Procurei fechar os olhos para as dificuldades e seguir em frente. Assim que cheguei  comecei a pesquisar o alfabeto e ficar próximo dos companheiros que falavam russo. Então tive uma adaptação rápida, com três meses já estava enrolando um pouco no russo. Não queria voltar para casa e falar: “Pô, cheguei lá e as dificuldades me superaram”. O segredo foi foco, além dos meus sonhos que tenho ainda, como jogar num centro europeu melhor e tudo mais.

Qual a maior dificuldade que enfrentou?

Acho que foi a distância da família. Maior dificuldade é essa. No futebol russo temos uma pausa na metade do ano e uma no final do ano. Só venho duas vezes ao Brasil no ano. Essa é a maior dificuldade.

Passou por alguma situação inusitada nesses anos todos?

A gente sempre passa por experiências diferentes. Mas meio fora do comum é que nunca vi tanto tanque de guerra, carro de guerra na minha vida. Meu clube fica na Chechênia, que, como todos sabem, já passou por coisas difíceis, guerras. O local foi completamente destruído. Antigamente era perigoso, mas hoje em dia tem muita polícia na rua, muita segurança. Às vezes vemos muitos soldados. Isso me impressionou, mas é por precaução, pois desde 2010, quando cheguei, não teve nenhum tipo de problema.

Você conseguiu conquistar um respeito grande no Terek Grozny. Como é sua relação com o clube e com a torcida?

Uma das coisas que me ajudou muito também a superar dificuldades e conquistar o que conquistei aqui foi o suporte da torcida. O grupo também é muito legal. Desde que cheguei sempre trabalhei muito para conquistar isso tudo. Acho que esse reconhecimento acaba ajudando, saber que gostam do seu futebol, te passam confiança. Todo dia tem algo novo, um carinho de torcedor.

Pensa em seguir na Europa ou tem planos de voltar ao Brasil?

Tenho um sonho grande de jogar num grande centro europeu. Mas não sou de priorizar uma coisa só, dizer que vou para a Europa e pronto. Às vezes acaba surgindo uma oportunidade diferente, que pode ser boa e naquele momento é melhor… Não tenho prioridades. Se tem algo que aprendi a valorizar nesse tempo na Rússia é que temos de ser felizes. Penso também em um dia voltar ao Brasil, que é meu país, que deu todo suporte para chegar onde cheguei. Meu contrato na Rússia acaba agora em dezembro e estamos analisando as possibilidades. Meu agente Marcio Bittencourt está cuidando disso comigo.

Qual a diferença do Mauricio que saiu cedo do Brasil para agora? 

Maturidade. Saber o melhor momento de forçar uma jogada, segurar ou cadenciar o jogo. Hoje posso ajudar melhor os companheiros. Acho que essas coisas. Fora de campo a gente amadurece também, acaba passando por algumas situações, ainda mais fora do país. E hoje sou pai de família também, tenho o Miguel, que fez um ano recentemente. Naquela época do Fluminense já morava com minha atual esposa, Fernanda, mas ainda não era casado. Então isso tudo mudou. Me sinto mais completo.

Fonte: Globoesporte.com / Foto: Arquivo pessoal