O futebol paga o futebol




“A vida não consiste em ter boas cartas na mão, mas em jogar bem com as que tem.” A frase, cunhada por Randy Pausch em seu livro The Last Lecture, serve muito bem para o time do Fluminense de hoje. A diretoria não entrega ao treinador as melhores peças e cabe a ele, com toda sua vontade de elogiar os atletas, montar um time que possa representar minimamente as glórias do clube.

Abro minha coluna com este tema para que possamos manter a vigilância nas ações da diretoria e sair da posição de cordeirinhos felizes com a vitória contra o fraco Salgueiro do Ceará. Afinal, ganhar de um time que, uma semana antes, perdeu para o Sampaio Corrêa do Maranhão de 4 a 0, dentro de casa, e ainda ostenta a condição de lanterna de seu grupo na Copa do Nordeste não é, definitivamente, nenhuma vantagem para o Fluminense.

A vitória, porém, serviu pelo menos para acalmar as coisas nas Laranjeiras. Apesar de o time continuar fraco e com poucas peças interessantes para propor o jogo como se espera de um clube grande, o carnaval da torcida tricolor foi menos triste. Mas a folia acabou e a fiscalização social da diretoria é fundamental para tirar a equipe do ostracismo implementado por Pedro Abad e sua trupe.

E nada melhor que buscar parâmetros para perceber o que a diretoria poderia fazer de melhor para honrar o Fluminense. E das Minas Gerais vem um exemplo que deveria servir de espelho para o comando da Rua Álvaro Chaves. Estou falando da equipe do Cruzeiro.

Pra quem acompanha o futebol nacional sabe que o tem de pior em matéria de competição são os torneios estaduais. A disparidade entre as equipes, o jogo sem graça, a falta de apelo midiático e as partidas em campos ruins são a tônica desses campeonatos. E isso, é claro, impacta diretamente na presença do torcedor no estádio.

Mas parece que essas dificuldades não afetaram a torcida cruzeirense. Casa cheia e apoio popular são vistos com frequência no Mineirão desde que o campeonato das Alterosas começou. Apenas para se ter uma ideia, a média de ocupação do tradicional estádio mineiro nos jogos em que a raposa tem o mando é de 45%. Nada mal pra um time que jogou, até aqui, contra Tupi, Villa Nova, América e Uberlância.

Apenas a título de comparação, o Fluminense, neste início de ano, levou 11.482 pagantes aos seus quatro jogos com mando de campo, ao passo que o Cruzeiro levou 111.407. Ou seja, o nosso Tricolor vendeu pouco mais de 10% dos ingressos vendidos pelo clube mineiro.

A vergonha é ainda maior quando deparamos com o número de torcedores em algumas partidas específicas. Contra o Macaé, por exemplo, 526 (isso mesmo, 526!) espectadores pagaram ingresso pra ver a vitória por 1 a 0 do Fluminense. Já pelas bandas de Minas, o menor público do Cruzeiro como mandante foram os 20.109 torcedores na goleada de 4 a 0 contra o Uberlândia. Ou seja, aqui estamos abaixo dos 3% na comparação com eles.

A média de torcedores pagantes do Fluminense é de 2.870 torcedores, com arrecadação R$ 323 mil. Já a do Cruzeiro é de 27.851, com renda total, até aqui, de R$ 1,8 milhão. Mas ganhamos em uma coisa: a média do preço de ingresso do Fluminense é de R$ 28 e a do Cruzeiro é de R$ 16. Os atuais “gênios” do marketing tricolor cobram mais por um espetáculo infinitamente inferior.

E é esse o ponto que talvez explique a gritante diferença entre os dois clubes neste início de temporada. O Cruzeiro investiu; e investiu muito. Dentre as contratações, trouxe uma que era o sonho de muitos tricolores: o atacante Fred. Eu não sou lá muito fã do cara, mas tenho que reconhecer que a maior parte da torcida é e ele foi parar na Toca da Raposa. Ou seja, incrementou o espetáculo que apresenta à torcida.

E este investimento só foi possível porque a diretoria cruzeirense resolveu ousar. Primeiro, buscou firmar parcerias que trouxeram recursos para o clube, como é o caso do banco mineiro BMG, além do aporte financeiro de diversos empresários. Tanto é assim que eles tiraram Mancuello do Flamengo com dinheiro de investidor.

Depois, acreditou que tais valores seriam pagos com títulos e receitas adicionais. Afinal, quem ganha campeonatos está sempre na mídia e isso é ótimo pros negócios. Qual empresário não quer vincular a sua marca a um clube vencedor? “O futebol paga o próprio futebol”; se pensar pequeno, será sempre pequeno, mesmo com as contas em dia. Do contrário, se pensar grande, será enorme e as dívidas também estarão saneadas pelas inúmeras receitas que virão.

Alguns irão falar: “mas o Cruzeiro deve 50 milhões à Fifa”. Para isso, um dirigente do clube tem a resposta: “a gente tá negociando e vai fazer um parcelamento, com processo que dura de três a quatro anos para finalizar”. Trocando em miúdos, o clube pensa em negociar o valor, reduzindo-o, e ainda parcelar em quantias que cabem no bolso. Se vai dar certo, não sei, mas já é pensamento de gente grande.

O Fluminense, apesar de ser muito maior que o Cruzeiro, não leva a torcida ao estádio, não consegue receitas extras e demorou quase dois anos para obter um patrocínio master. A culpa, é claro, é da nossa diretoria e da Flusócio, que não têm coragem de ousar e são pequenos demais para a imensidão tricolor.

Francisco Horta, do alto de seus 83 anos, deve ter alucinações noturnas quando pensa que, um dia, geriu o clube e implementou práticas revolucionárias que hoje são comuns no futebol, como o “troca-troca” entre os clubes cariocas para impulsionar o público que assistia às partidas, aumentando-o para mais de 3 milhões de torcedores. Era um mago das finanças futebolísticas e entendeu que o investimento em time grande se paga na arquibancada.

Se Abad e a Flusócio não derem uma mãozinha, o clube não vai sair do atual estágio em que se encontra e a torcida, que já anda afastada, vai se distanciar ainda mais do time.

Profissionalismo não rima com apequenamento, incompetência e falta de transparência.

Ser Fluminense acima de tudo!

Evandro Ventura



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