O maior cosmólogo de todos os tempos…






‘’O Fla x Flu surgiu 40 minutos antes do nada’’ – Nelson Rodrigues

Outra vez, amigo leitor, começo com um aforismo rodrigueano. Nelson Rodrigues é o maior cosmólogo de todos os tempos. Por que existe o ser e não o nada? Como surgiu o universo? Alguma divindade criou o cosmo? O que Deus fazia antes de criar todas as coisas?

Uma ‘’cosmovisão’’ é, antes de tudo, a sua inquietação original: interessa mais a pergunta e menos a resposta. O nada precede o ser? O ser é ingênito e eterno? Não! Antes de tudo, antes do nada, antes do tempo havia o Fla x Flu. O Fla x Flu não é um clássico. O embate entre ‘’os irmãos Karamazov’’ do futebol é uma cosmologia, uma espécie de representação futebolística do mistério insondável. O jogo cósmico antecede o nada em 40 minutos!

E o que aconteceu antes do Fla x Flu? Não do Fla x Flu metafísico e cosmológico, mas do primeiro jogo da decisão do Carioca 2021? Ambas as equipes vinham embaladas. O Tricolor, em uma partida emocionante, havia derrotado o Santa Fé. Jogamos mal? Sim! Os analistas estão com a razão.

Roger Machado preferiu exaltar o resultado, a virada épica. Eu também. O Flu venceu o Santa Fé e, mais uma vez, os humilhados foram exaltados. Caio Paulista, um dos mais criticados do elenco, fez um gol do imaginário. Gol do imaginário? Sim, amigo leitor! Lembra de quando ele fez o seu primeiro gol com a camisa do Amado Clube de Laranjeiras? A pedido da psicóloga do clube, cada gol do ponta passa por uma gestação mental, por um processo de elaboração imaginária antes de se tornar real.

Ambas as equipes estavam embaladas na temporada, mas quem foi melhor no primeiro duelo da final? O Adversário! Sim! Outra vez, os analistas dirão a verdade e terão a razão. O oponente foi o melhor. Notadamente no primeiro tempo, o Pó de Arroz foi inferior taticamente, tecnicamente, fisicamente, moralmente e espiritualmente. Perdemos o primeiro tempo de todas as formas. Até o nosso lateral esquerdo tentou contribuir para afirmar a superioridade do rival.

De um ponto de vista puramente racional e analítico, a verdade é que Roger Machado sofreu um nó tático. O Time de Guerreiros foi encurralado e, nas cordas, parecia haver perdido a consciência. O Nense caiu como quem tomba depois levar uma paulada na nuca. O Time de Guerreiros parecia batido, morto, exaurido em todas as suas dimensões. No Fla x Flu, amigos, as aparências são ilusórias.

Vou repetir: os analistas estão com a razão! Como devoto do futebol, um humilde torcedor, eu poderia fazer apenas uma objeção: o Fla x Flu não pode ser explicado pela razão! Não, amigo leitor! Melhor dizendo: a razão explica o Fla x Flu até a página 3, até o segundo parágrafo da página 3. Eis o que eu quero dizer: o Flamengo perdeu a chance de ser campeão, de realizar o placar, a vantagem necessária para ficar com a taça. O gol do atacante Abel foi um sinal. Não importa se o adversário foi melhor.

A verdade cósmica do clássico, a verdade do ‘’jogo que antecede o nada’’ é que o Tricolor será o campeão. A razão é incapaz de compreender. O Fluminense, mesmo jogando mal, saiu de campo não com um empate, mas com a sorte mística dos campeões. Repito: saímos das quatro linhas vestidos com a mística do time vencedor!

-Senhoras e senhores, o Fluminense será o Campeão Carioca de 2021! 

Teixeira Mendes