Opinião: “O Fluminense de Diniz nos traz uma lição sobre quebrar”




Fernando Diniz e Mário Bittencourt (Foto: Fluminense F.C.)



O Fluminense de Diniz nos traz uma lição sobre quebrar (por Milly Lacombe / UOL)

Há seis meses o Fluminense estava em estado de graça: conquista da América, festa nas ruas, torcida enchendo o centro da cidade para celebrar com seus heróis. De lá para cá, uma descida vertiginosa rumo a lugares sombrios. O que teria acontecido em tão pouco tempo?

Dentro de um problema coletivo temos sempre as questões dos indivíduos. E o treinador Fernando Diniz é um dos que talvez esteja mais melancólicos com o que está acontecendo não apenas na dimensão do grupo mas também na do pessoal. Diniz já montou antes desse Fluminense um time com pegada de campeão que derreteu no meio do caminho. Seu São Paulo de 2020 jogava com maestria e liderou o Brasileirão com sobras por muitas rodadas. Foi virtualmente apontado como o campeão antecipado. E então desmoronou.

Ao contrário do Fluminense de 2023, o São Paulo desmoronou antes da conquista. Pelo menos com o tricolor carioca Diniz conseguiu o caneco e as glórias; mostrou que seu estilo de jogo tem, além de beleza, capacidade de ser campeão.

Mas, outra vez, um time derrete em tempo recorde sob seu comando.

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Temos, portanto, um diagnóstico: Diniz constrói times que jogam um futebol bonito e solto, os times conseguem vencer torneios, mas a iminência do desmoronamento é real.

Uma queda como essas só se explica por problemas extra-campo. Jogadores não desaprendem da noite para o dia. Bons atletas não viram cabeças de bagre de sexta para sábado. O problema de Diniz talvez esteja na forma como ele é capaz de trazer o grupo para si e depois perdê-lo.

O estilo de jogo que ele criou só funciona se todos estiverem muito fechados com ele e entre si. A forma solidária e coletiva de estar em campo não se dá se os relacionamentos no vestiário e mesmo na vida estiverem em frangalhos. O Dinizismo que eu tanto gosto é sobre confiança, amizade, entrega, solidariedade, comunidade. Um time é feito de 11 em campo, mas também de tantos outros no banco, de tantos outros no vestiário, de tantos outros nas cozinhas, nos departamentos médicos, nas cabines, nos computadores, nas salas de imprensa? É gente demais que faz parte de um time.

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Chegar no topo não é tão difícil quanto se manter nele. É por isso que o trabalho de Abel Ferreira, de Anderson Barros e de Leila Pereira é tão fenomenal no Palmeiras. O time se mantém no topo há anos.

No São Paulo Diniz perdeu o grupo quando tretou publicamente com Tchê Tchê. No Fluminense não está claro se a derrocada se deu pela perda do grupo, mas eu começo a achar que sim.

É possível recuperar um grupo esgarçado e emocionalmente quebrado? A resposta não cabe em uma palavra.

Acredito que quebrar é parte da vida e que temos muito a aprender quando caímos. Momentos difíceis mostram caminhos que estavam até ali escondidos. Acredito que o papel de qualquer liderança que se proponha a criar ambientes de integridade, de decência e de crescimento – para ele, para o grupo, para o clube – é o de se transformar para assim poder conduzir a transformação da equipe. E acredito também que Fernando Diniz é um homem inteligente que pode perceber tudo o que está acontecendo e se reinventar.

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Como escreveu Vladimir Safatle em Alfabeto Das Colisões, “as quebras são nosso destino porque somos seres em relação. Não há como evitar quebras porque procuramos colocar em relação corpos com tempos distintos, ritmos distintos, desenvolvimentos idem. [?] O desejo procura a queda porque ela é o impulso que temos para sermos diferentes de nós mesmos, diferentes do que fomos até agora”.

Com a queda de seu Fluminense, Diniz tem diante de si a oportunidade de ser um treinador ainda melhor. Torço para que ele não desperdice essa chance.

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Por Explosão Tricolor

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