Os 57 mil (quase) anônimos




Foto: Vinicius Toledo / Explosão Tricolor

Os 57 mil (quase) anônimos

Buenas, tricolada! Não tem jeito, temos que viver as dores da desclassificação na Sula! A torcida não merecia. Os Joões, as Marias, os Paulos e Márcias que povoaram o Maracanã não deveriam verter uma lágrima sequer pelo adeus do Fluminense no torneio continental. Mas o que vimos foram prantos incontidos, num misto de desapontamento, desespero, desesperança e resignação de cada guerreiro presente no estádio! Porra, foram 57 mil cabeças… Na verdade, fizemos uma festa com a qual não convivíamos há tempos! E ela estava linda! Que atmosfera!

Pois é, mas o senhor Digão resolveu encharcar o nosso chopp de água salobra! Caramba, o malandro levou doze horas e meia para erguer a sua perna esquerda e tentar o corte de um cruzamento da esquerda (cagado) do Clayton. A pelota bateu no Julião, sobrou pro Pedrinho, livre, empurrar para o fundo das redes.

Beleza, houve uma sobra de bola. OK, foi sorte. Mas vivenciamos o tal do improvável em todas as modalidades esportivas. Por que no futebol seria diferente? Pior foi a constatação de que as falhas individuais permanecem ativas e operantes no decorrer dos nossos confrontos.

Na ponta do lápis, se não fosse o Muriel, que realizou ao menos três grandes intervenções, muito provavelmente estaríamos amargando uma derrota para o Corínthians, neste segundo jogo das quartas de final da Copa Sul-Americana!

Não que os Gambás sejam um timaço. Não que os caras sobrem na turma. Nem passa pela minha cabeça que o Corínthians seja um bicho-papão. Mas os paulistas tiveram chances de matar o duelo. Diga-se de passagem, uma partida de muita intensidade, mas mediana. Duas equipes nervosas e marcando bastante. E a qualidade técnica passando ao largo!

Destaco, com limitações, nesta ordem, Nenê (ao lado do Muriel), Igor Julião, PH Ganso e Allan. Ainda assim, todos erraram à revelia, sem medos… O Muriel, por exemplo, antes de realizar uma defesa improvável, cagou o pau ao errar um chutão e servir o ataque inimigo.

Nino comete uns vacilos estranhos, mas é bom zagueiro e tem somente 21 anos. Já o Digão, aos 31, jamais passará deste beque mediano que assistimos desde a base.

Caio Henrique esgotou o seu repertório de lateral improvisado. As suas investidas pela esquerda já deixaram de surtir efeito há vários jogos. Ademais, ele atrasa todo o contra-ataque em velocidade que criamos pelo seu lado. O motivo é bem simples: está mais do que manjada aquelas paradinhas de letra, cortando pro meio, que via de regra ele utiliza. Com elas, a lucidez e a rapidez das jogadas se vêm comprometidas, já que existe tempo de sobra pro adversário recompor as suas linhas. Hora e vez de ocupar um posto na meiúca, de volante.

O Daniel, mesmo tendo melhorado sobremaneira, ainda carece de maior efetividade. Mas não adianta: ele vai evoluir um tiquinho de nada e nunca resolverá os nossos anseios e problemas.

Como mencionei numa coluna anterior, o Marcos Paulo está subutilizado na esquerda, cumprindo função tática. Estamos desperdiçando o seu talento nato. Seu lugar é no meio, próximo da área, quando ele poderá usar o seu poder de improvisação e decidir um jogo. E o Yony andou sumido. Aliás, ele e nada, nesta partida, caminharam de mãos dadas. Não sabíamos quem seria o gringo e quem poderia ser “o nada”! Era pra ter sido o primeiro sacado pelo Oswaldo de Oliveira.

Da mesma forma, não enxerguei correta a substituição do Ganso pelo Pablo Dyego. O retirado deveria ter sido o Nenê, que já trajava uma gravata vermelha desde a metade do segundo tempo. O cara cansou, de fato, depois de ter boa participação… Caceta, ele tem 38 anos!

O Édson Arantes do Nascim… ops! O Wellington Nem entrou e postou-se com a alcunha do Pelé. Sim, porque o moleque matou inúmeras puxadas de jogo do ataque tricolor, prendendo a bola excessivamente, escolhendo os piores companheiros e os piores passes, próximo à área corinthiana. E ainda perdeu um gol relativamente fácil (o bandeira marcou impedimento, mas no VAR certamente os juízes validariam o tento, pois um zagueiro de preto dava condições com o pé, no lado oposto à origem do lance).

Trocando em miúdos, os guerreiros tiveram uma atuação ruim – por vezes regular. Empatamos, a duras penas, com uma agremiação tradicional, forte, mas que não desfruta de um poderio ofensivo que assuste. Ao contrário, os malandros têm um sistema defensivo quase inexpugnável. Oras, por estes motivos é que o Flu não poderia abrir mão do centroavante. Era jogo pro Jotapê!

Muitos dirão que o Oswaldo ainda não teve tempo de implementar as suas ideias, o que corresponde à verdade, mas a maneira dinâmica e envolvente designada pelo Fernando Diniz foi – ou irá – por água abaixo até o final da temporada.

O FFC perdeu, em pouquíssimo espaço de tempo, três de suas melhores características: posse de bola, domínio territorial e criação de oportunidades de gol. Sim, eu lembro que desperdiçávamos chances em profusão, mas estávamos sempre rondando a área do oponente. Isto é, os conceitos mudaram, afastamo-nos daquela agradável distinção de jogo que o técnico anterior propunha, e permanecemos perdendo (ou dançando nas competições). Se algum corajoso se dispuser a assistir de novo o confronto desta quinta-feira, logo, logo perceberá que a nossa ocasião mais clara de abrir o marcador se deu no começo dos 45 minutos iniciais, naquela pancada do Nenê de fora da área, para boa defesa do Cássio.

A temporada, pra mim, acabou! Hora de o Mário Bittencourt planejar seriamente o ano de 2020, já que o atual certame foi pro saco. Ah, e cobrem-me aqui mesmo, antes das festas de dezembro/janeiro: o Fluminense Football Club não cairá para a Segundona! Há times piores do que o nosso, o Brasileirão sequer chegou à sua metade, e prevejo uma reviravolta nesta tabela de classificação do maior torneio de futebol do planeta. Minha convicção!

É, não será neste ano que finalmente veremos o Fluminense campeão de uma competição internacional (vamos tentar esquecer o Mundial de 1952… Provavelmente, nenhum – ou a maioria esmagadora – dos leitores do Explosão Tricolor teve o prazer de presenciar esse feito histórico).

No mais, bola pra frente que amanhã é outro dia.

Até a próxima.

Saudações eternamente tricolores!

Ricardo Timon