Presidente do Fluminense rebate nota do Vasco da Gama sobre o Maracanã: “Extrema arrogância”






Mário Bittencourt criticou a “arrogância” presente na nota divulgada pelo Vasco da Gama

A “Guerra Fria” nos bastidores em relação à licitação do Maracanã ganhou mais um capítulo neste domingo. Após o Vasco da Gama soltar uma nota oficial rebatendo uma entrevista do presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, sobre a disputa pela gestão do estádio, agora foi a vez do Fluminense, parceiro comercial do Rubro-Negro no consórcio, se posicionar.

Em entrevista ao portal Globo Esporte, o presidente do Fluminense, Mário Bittencourt, revelou que foi oferecido ao Vasco da Gama 10 jogos por ano no Maracanã e manteve as portas abertas ao rival. Mas criticou o que chamou de “incompreensão da SAF de todo o processo” e rebateu a nota vascaína:

– A nota do Vasco revela a incompreensão que a SAF tem de todo o processo, em um texto que embute extrema arrogância. Fica claro o objetivo de tentar tumultuar o ambiente. Como pode alguém afirmar que se o critério for técnico será o vencedor? E dizer isso sem conhecer as outras propostas, que não foram levadas a público? – questionou Mário Bittencourt

– Desqualificar o pleito só serve a quem quer criar uma narrativa para depois tumultuar e sabe-se lá onde isso pode parar, principalmente em um ambiente emocional como o futebol. As declarações não condizem com o profissionalismo que uma SAF se propõe a adotar – completou.

O processo de licitação para administração do Maracanã foi paralisado pelo Tribunal de Contas do Estado, que executou uma avaliação técnica e pontuou diversos trechos que precisariam ser modificados. O TCE, então, determinou que a licitação fosse refeita. Ela está em fase de elaboração na Casa Civil do Estado, e não há data para o recomeço do processo.

Veja todas as respostas dadas por Mário Bittencourt:

Tanto a nota do Vasco quanto a reação a ela, na entrevista do presidente do Flamengo e nessa sua resposta, demonstram que a fervura aumentou na relação entre os clubes. Ainda há chance de diálogo?

“Os clubes vinham se relacionando de forma muito cordial até que o Vasco resolveu, sem motivo algum, tentar impor sua vontade à força. Em várias conversas com o presidente Jorge Salgado nós afirmamos e reafirmamos que haveria lugar para o Vasco jogar no Maracanã. Tanto eu quanto o Landim dissemos isso a ele, desde que respeitados os critérios técnicos do estádio, aos quais Fluminense e Flamengo também estão submetidos.

Ou seja, o número de partidas tem que ser condizente com os cuidados técnicos com o gramado. Investimos milhões de reais para que o Rio de Janeiro tenha um gramado de excelência, que beneficia a todos, inclusive o Vasco. Por que colocar isso a perder? Tudo isso foi dito e explicado. Mas a partir de um determinado momento ficou claro que o objetivo era fazer um discurso político, jogando para a torcida. Isso não é condizente com uma boa relação entre os clubes.”

Há espaço para um terceiro clube na gestão do estádio? Ou dois é o limite por conta das condições do gramado?

“Ninguém nunca disse que o Vasco não pode jogar no Maracanã, até porque seria um desrespeito ao clube, a seus torcedores e à sua história, que eu, por sinal, respeito muito. Todos nós respeitamos. As portas do Maracanã sempre estiveram abertas ao Vasco para jogar, e assim permanecerão no caso de uma vitória de Fluminense e Flamengo no pleito, mas repito: tem que respeitar as condições do gramado, dos calendários oficiais e regras de utilização. E isso não pode ser uma imposição do Vasco. Nossa gestão do estádio é séria e respeitosa.

No ano passado, oferecemos ao Vasco para enfrentar o Guarani no Maracanã, mas recebemos a resposta de que este não seria um jogo “Maracanizável”. Por toda a complexidade de administrar o Maracanã, infelizmente não é possível atender a um conceito de “Maracanizável”, pois isso obrigaria a incluir na discussão mais um fator de influência no calendário do futebol, que, como se sabe, já é demasiadamente complexo. O simples fato de esgrimar esse argumento nos pareceu uma afronta. Não pode haver um interesse seletivo em jogar no Maracanã. Ou seja, não pode um clube impor sua vontade em detrimento da coletividade.”

Mas se os clubes concordam que o Vasco pode jogar, onde reside o problema?

“Esse é um esclarecimento importante. O que vinha se discutindo, até o Vasco adotar a postura beligerante que adotou, era a forma de participação. E aí são duas coisas distintas. Uma é a gestão do estádio, integrando uma sociedade entre clubes; outra é a utilização do estádio para jogos. Ser sócio em um empreendimento requer entendimento, uma visão de longo prazo e objetivos comuns. Fluminense e Flamengo decidiram ser sócios porque, após muitas conversas, entenderam que têm uma visão comum e priorizam o futebol.

Os dois clubes acreditam muito na forma como vêm gerindo em dupla. Há debates internos, discordâncias às vezes, mas encontramos um jeito de seguir com sucesso. Por sinal, em 2019, convidamos o Vasco para participar da administração, mas não houve interesse. O Vasco sempre soube da qualidade de seu estádio próprio e sempre se orgulhou disso. Agora mudou os planos, talvez por conta da chegada do investidor com objetivos exclusivamente comerciais, e tentou arrombar a porta, desqualificando o edital. Isso me parece uma irresponsabilidade.”

Em algum momento o Vasco ou seus parceiros comerciais falaram com vocês sobre ter planos de shows musicais no Maracanã em meio ao calendário de jogos? Se sim, isso é algo que preocupa vocês?

“Veja o seguinte: a quantidade de jogos do calendário Brasileiro é enorme, o que é um problema estrutural que há muito tempo se discute e não é novidade para ninguém. Não é um capricho dos dois clubes. Portanto, Fluminense e Flamengo são mandantes em 38 jogos do campeonato Brasileiro, mais os jogos da Copa do Brasil, do Carioca, Libertadores etc. Falamos aí de quase 70 jogos somente para os dois clubes. Se tivermos um terceiro, fica apertado demais. Ainda assim concordamos em abrir as portas para que o Vasco tivesse alguns jogos lá, até um limite de 10 jogos, o que seria possível acomodar.

E veja que o gramado não suporta tanto, devido a questões climáticas específicas do local, que é um conhecimento que nós e o Flamengo estamos desenvolvendo e que hoje nos permite ter um gramado de qualidade. Um espetáculo artístico demanda tempo para montar, cobrir o gramado, montar o placo, e depois desmontar tudo. Está claro que, ao pertencer a uma empresa que tem o entretenimento cultural em seu modelo de negócios, planeja-se realizar shows. Flamengo e Fluminense querem um estádio de verdade, jogos de qualidade, para desenvolver ainda mais o futebol do Rio.

Essa é a nossa prioridade e a principal diferença para a SAF. O lado comercial obviamente é importante, mas as decisões precisam ser pautadas prioritariamente pelo futebol, o que inviabiliza ter como sócio um terceiro com prioridades distintas.”

O Vasco diz que ofereceu São Januário ao Fluminense no ano passado. E que não teria problema em ceder o estádio. Mas não houve um veto lá ao Fluminense na Libertadores após jogo contra o Millonarios? Como veem essa questão?

“O Vasco preferiu omitir esse acontecimento nesta sua nota infeliz, mas aconteceu. O Maracanã estava fechado justamente para reforma do gramado e o Fluminense tinha dois jogos muito importantes da Pré-Libertadores. O cronograma de manutenção do gramado já havia sido feito antes de sabermos que estaríamos na Pré-Libertadores, e qualquer mudança poderia prejudicar o gramado durante o ano todo. Então solicitamos ao Vasco a realização dos jogos em São Januário, o que foi aceito. Assinamos inclusive um contrato para disputar as duas partidas lá e pagamos de forma antecipada.

Jogamos a primeira, contra o Millionarios, mas recebi uma ligação do presidente do Vasco em seguida dizendo que os torcedores não gostaram de como a torcida do Fluminense se comportou e que por isso nos solicitava que tirássemos o jogo de lá. Ora, francamente. Afetar a organização esportiva dos clubes é algo muito sério. Implica em perda de performance, perdas comerciais etc. Mas respeitamos, embora nos parecesse absurdo mudar o combinado por pressão de torcedores que não gostaram da gozação do rival – o que é parte da cultura do futebol.

Tempos depois, nos soou mais estranho o Vasco desacreditar as restrições devido à qualidade do gramado, quando ele mesmo nos impediu de jogar, quebrando um contrato, por um argumento incomparavelmente mais frágil e, falando francamente, indefensável quando se almeja uma relação saudável entre as instituições. É preciso ter coerência e firmeza para que o futebol do Rio retome seu lugar de destaque.”

As CNDs do Fluminense ainda estarão válidas até abril, para entrar como sócio na licitação? Na prática, o que mudará para o Fluminense em relação ao modelo atual?

“Sim. O Fluminense permanece com as CNDs em dia. Hoje, tecnicamente, o Fluminense é interveniente no contrato de administração do Estádio. Caso sejamos vencedores do certame, o Fluminense será oficialmente sócio do Estádio, junto com o Flamengo. É preciso entender que o planejamento dos clubes foi feito pensando em todas as possibilidades. A situação financeira do Fluminense, embora tenha melhorado muito, ainda impõe cuidados e tudo foi pensado. Estamos muito seguros de que estaremos junto com nosso parceiro em perfeitas condições técnicas de vencer o pleito.

E repito, nosso objetivo é de que o Vasco utilize o Maracanã se assim desejar, mas com responsabilidade e sem estratégias políticas que levem à tentativa de criar narrativas para a torcida, de politização e de tentar confundir a opinião pública. Temos outras prioridades, como construir um Campeonato Carioca forte, ter jogos de alto nível com transmissão profissional de qualidade. Recentemente estive em São Januário para homenagear um dos maiores ídolos da história. O Vasco e seus ídolos sempre terão nosso respeito. Só pedimos em troca que tenhamos o mesmo tratamento.”



Por Explosão Tricolor

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