R$ 45 milhões: Entendendo a redução das dívidas do Fluminense




Dinheiro



Fala, torcida tricolor! Aqui quem fala é o Yuri Cardoso, e vou aproveitar a estreia neste espaço para tentar clarear um pouquinho da situação financeira do nosso Fluzão, com uma linguagem bem direta e objetiva.

Antes de mais nada gostaria de me apresentar rapidamente como um tricolor apaixonado, profissional na área de contabilidade desde 2013 e com boa experiência em Auditoria

Apresentação feita, vamos lá!

Como grande parte de vocês deve saber, o portal ge publicou uma matéria, na última sexta-feira (27), a respeito do balancete do segundo trimestre disponibilizado pelo Fluminense em seu Portal da Transparência, dando alguns dados interessantes sobre a situação financeira do clube até o mês de junho de 2021.

Dentre as informações divulgadas, chamam a atenção o superávit do período em cerca de R$ 13,4 milhões, o prejuízo com os Esportes Olímpicos na casa dos R$ 4,4 milhões, e a redução das dívidas em cerca de R$ 45 milhões. É sobre esse último dado que eu gostaria de abordar com vocês.

Antes de seguirmos em frente, é importante destacar que a matéria trata como “Dívida” todo o passivo do clube, mesmo que estes sejam provisões contábeis, ou recebimentos antecipados de verbas. Dito isso, vamos ao que interessa.

Embora a notícia seja animadora, o torcedor precisa se atentar a algumas situações que causam extrema preocupação e que não é abordado na referida matéria do ge.com.

Da redução de R$ 45 milhões, cerca de R$ 17 milhões se devem a pagamento de salários e encargos, benefícios e direitos de imagem e como sabemos, o Fluminense lida com esse tipo de problema há algum tempo. É notório que a gestão atual tem feito de tudo para manter os salários em dia, inclusive liquidando atrasados, o que pode justificar a queda dessa dívida. Porém houve também a redução de R$ 17 milhões em “Provisões para contingências” e precisamos analisar esse evento com bastante cuidado.

As provisões para contingências são no popular, números contábeis que representam o quanto o clube espera gastar com o pagamento de processos e outras dívidas judiciais, e quando há uma redução dessa provisão podem ter ocorridos no geral 3 situações: 

  1. A justiça executou o clube, que precisará pagar o processo;
  2. O clube venceu uma disputa judicial e não vai precisar pagar;
  3. O valor previsto foi recalculado.

Sendo assim, possivelmente o Fluminense perdeu disputas judiciais sendo obrigado a pagar pelas execuções. Não se trata, portanto, de uma estratégia financeira, mas uma obrigação de pagar a qual o clube foi submetido.

Outra movimentação que precisa ser olhada com carinho é a redução da linha de “Adiantamentos recebidos” em cerca de R$ 3,8 milhões, que se trata basicamente de verbas adiantadas ao clube e que só podem ser reconhecidas no resultado quando o direito de receber de fato existir. 

Exemplo: Peço a vocês um adiantamento por um produto que irei lhes vender apenas no mês que vem. Quando recebo esse dinheiro adiantado, não posso reconhecer a receita da venda pois ela ainda não ocorreu. Sendo assim, trato como um Passivo, ou seja, uma obrigação de reconhecer a receita quando eu entregar o produto a vocês.

Significa dizer que os “Adiantamentos recebidos” não eram exatamente dívidas, embora o ge.com trate todo o passivo como dívida.

Houve ainda a redução de cerca de R$ 7 milhões em Impostos a pagar, sendo esse um índice positivo, uma vez que demonstra que o clube segue honrando compromissos fiscais e principalmente os parcelamentos firmados com a receita federal.

Por fim, um último dado me preocupa MUITO!

Os ativos circulantes do Fluminense, ou seja, bens e direitos de curto prazo, somam cerca de R$ 25 milhões. Isso quer dizer que se o Fluminense precisar de caixa em um prazo de até 12 meses ele consegue gerar no máximo esse valor. Em contrapartida, o passivo circulante, aqueles que deverão ser pagos nos próximos 12 meses, somam R$ 319 milhões. Isso quer dizer que o Fluminense tem atualmente sérios problemas de pagar dívidas de curto prazo, pois não possui nesse momento caixa e nem ativos suficientes para quitá-las tão rapidamente. Lembrando que no balancete do 1T2021 o Fluminense possuía R$ 54,4 milhões em ativo circulante e R$ 315M em passivo circulante, uma situação ligeiramente melhor do que a do 2T2021. 

Minha impressão é de que embora seja importante reduzir as dívidas, nada de extraordinário foi feito para tal e a matéria me soa exageradamente positiva em relação a verdadeira situação do Clube. Gostaria que a diretoria explicasse a sua estratégia para a redução constante das dívidas, principalmente as de curto prazo e que podem gerar muita dor de cabeça. Essa seria uma boa maneira de nos tranquilizar e nos dar esperanças de que o Clube de fato está trilhando o caminho correto.

No mais, seguimos vigilantes e na torcida para que o Fluminense seja administrado sempre com responsabilidade, afinal a bola não entra por acaso!

Um grande abraço e saudações tricolores!

Yuri Cardoso