Incertezas no time e liquidação de Xerém




Foto: Lucas Merçon / Fluminense F.C.

Foram longos meses à procura do time ideal, cheios de turbulências. Mudanças de esquema, de escalação, de proposta de jogo, até que, após muito tentar, achamos a melhor formação ainda nas primeiras rodadas do Brasileiro. 

Finalmente, passamos a ter um rosto. Gostemos ou não do estilo, nossa equipe esteve minimamente organizada. No 4-2-3-1, evitando correr riscos, volantes sobem alternadamente, os “pontas” centralizam o jogo, laterais abrem nas pontas (ou deveriam, já que Egídio vinha mal e Calegari não tem essa característica), o meia centralizado é quase segundo atacante e o centro avante busca receber de frente, para guardar nas poucas chances que criamos. Luccas Claro, Calegari, Dodi e Araújo ganharam vagas. Marcos Paulo ficou na ponta esquerda.  

Só que durou muito pouco. No último texto, tentei dissecar a queda de rendimento. Em suma: venda do melhor do time, Lewanilson; cansaço físico, devido à sequência duríssima pós-pandemia com pouquíssimo rodízio no elenco; trapalhadas em sequência do Odair nas escalações e substituições; desatenção nos inícios dos tempos; persistência de problemas antigos (sem reforços para as laterais, más fases de Marcos Paulo e Nino; responsabilidade jogada em garotos sem rodagem).   

Precisaríamos lidar com essas questões para garantir um ano decente. Contudo, ao menos por enquanto, a tônica não foi de reação. Vieram mais três partidas de futebol fraco.

Contra o Atlético GO, uma eliminação vexatória na Copa do Brasil. Duelo marcado por dois frangos inacreditáveis do Muriel, total falta de criatividade na armação (aliás, a falta de volume de jogo é marca desse time), e um baile de transpiração no primeiro tempo. 

O adversário, mais organizado, matou nossa saída de bola. E ainda ganhou todas as disputas no primeiro tempo. A disparidade física foi tanta que penso ter havido influência das infecções por Covid-19, até então não detectadas. Ao que consta, Luiz Henrique pediu substituição, passando mal. Sem falar que o Luccas Claro terminou a partida com febre.     

Aliás, tá na hora do Muriel pegar um banco. Não o acho ruim, mas está sem confiança. Temos o Marcos Felipe no banco, que deu conta do recado quando exigido.

Na sequência, goleamos o Coritiba no Engenhão, já bastante desfalcados pelo surto de Covid no elenco. Os 4 a 0 enganam, jogamos bem apenas por uns 25 minutos. Depois, recuo e pressão até o adversário desmoronar com o segundo gol, num lampejo de futebol da dupla Julião e Felippe Cardoso. 

Por fim, o empate de domingo, no Clássico Vovô. Mais uma vez, quase sem jogar bola. E recuando demais após abrirmos o placar. Dessa vez, a postura tosca cobrou dois pontos importantes. 

Quanto aos problemas, alguns até parecem se encaminhar para uma solução. Para o cansaço, se o treineiro evita ao máximo poupar titulares, as eliminações precoces nos mata-matas podem devolver um pouco de intensidade à equipe. Além disso, Nino parece ter voltado ao normal. E até o MP vinha fazendo jogos melhores.

Por outro lado, nosso técnico dá mostras de que já esgotou o repertório. E vai seguir errático. Quanto ao elenco, a diretoria achou por bem resolver a lateral esquerda com a terceira opção do Botafogo, deixar só Calegari e Julião para a direita mesmo, trouxe o Lucca para o ataque (acho que pode somar, mas longe do nível do Evanilson), e ainda tenta se desfazer do MP. 

O cenário é de incerteza. Não perdi as esperanças da briga pelo G7, sobretudo porque nossos adversários também não se entendem bem com a bola, mas hoje a realidade parece apontar mais para a meiúca da tabela. 

Olhos abertos, contudo. As coisas têm mudado muito rápido neste ano de pandemia. E nossos dois próximos duelos não são dos mais complicados: o lanterna Goiás, fora, e o Bahia, em casa.

Se no campo estamos no mais ou menos, fora dele o cenário é tenebroso. Nosso orçamento, publicado apenas em agosto, previa arrecadação de 70 milhões com vendas de atletas para ficarmos no azul. 

Já se foram Gilberto, Evanilson, Marcelo Pitaluga. E ainda estamos longe da meta. A diretoria tenta empurrar o Marcos Paulo de qualquer forma para alcançá-la. Se antes vendíamos a janta para o pagar o almoço, hoje deixamos no balcão de negócio nosso presente e até o futuro próximo. Liquidação.

Diante desse cenário, fica a pergunta: nossos gestores têm noção da lama em que estamos? Se a situação é crítica a ponto de perdermos três titulares e um futuro titular, nós poderíamos ter nos reforçado com medalhões como Egídio, Hudson, Henrique e Wellington Silva? Podíamos ter comprado o Pacheco e o Araújo?

O cenário é muito delicado, até porque não podemos nos dar ao luxo de flertar mais com os rebaixamentos. Cair pode ser fatal, basta ver o que ocorre com o Cruzeiro hoje.

Por isso, é necessário responsabilidade. Entendo ser necessário dar cada vez mais espaço para a base. Porém, de forma planejada, sem jogar moleque cru, sem rodagem de Carioca ou jogos menores para resolver carências do time de cima. 

Não dá para perder craque praticamente de graça por falta de interesse em renovar e deixar por isso mesmo. Nem para precisar vender tanto jogador assim, sem nem dar tempo para eles se firmarem e valorizarem.

Na contramão disso, o Fluminense vem optando por fazer muitas contratações para o profissional. Obviamente, não dá para contar apenas com a base, mas a quantidade chama atenção. 

Em dois anos e meio de presidência do Pedro Abad, vieram 41 jogadores, 11 deles acima dos 27; 5 acima dos 30 anos. E outros 30 jogadores até os 27 de idade. Média de 24 anos.

Com a gestão Mário Bittencourt, nitidamente veio a preferência por atletas mais experientes. E a experiência, no futebol, geralmente custa mais caro. 

Desde a posse, em Junho do ano passado, foram 18 contratações. Dessas, 10 foram jogadores de 27 anos ou mais, 5 deles acima dos 30, apenas 8 até os 27 anos. A média foi de 27,6 anos.

E tome cobrança de valores atrasados e não pagos na justiça!

Aliás, o mesmo Fluminense que hoje não tem condição de aceitar a proposta salarial pedida pelo Dodi – um dos destaques do time, jovem, com potencial de revenda ou de ser titular por um tempo -, há poucos meses fazia uma oferta de mais de 17 milhões de reais pelo Allan, jogador de posição, idade e desempenho no clube não muito distantes.

ATÉ AQUI NOS ANOS ANTERIORES:

2018 – Brasileirão: 15 pontos (12ª colocação); Sul-Americana: classificado à 2ª fase, após eliminar o Nacional Potosí-BOL; Copa do Brasil: eliminado na 3ª fase pelo Avaí.

2019 – Brasileirão: 12 pontos (16ª colocação); Sul-Americana: classificado à 2ª fase, após eliminar o Antofagasta-CHI; Copa do Brasil: classificado para as oitavas de final, após eliminar o Santa Cruz.

Vale dizer: insisto em comparar com as temporadas a partir de 2018 porque este foi o primeiro ano que nos planejamos tendo noção do rombo deixado pela gestão Peter Siemsen. É o ponto mais baixo do clube desde a saída da Unimed, que revelou o tamanho da nossa pobreza. A recuperação, portanto, começa a partir dali.

VENCE O FLUMINENSE!

Tarik Moussallem

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