Eu nasci há 116 anos!




Buenas, tricolada!

Exagero? Que nada! Eu nasci há 116 anos, assim como o glorioso, tradicional e eterno Fluminense Football Club!

Eu e o Fluzão temos um elo inexplicável! Coisa de genoma, cromossoma, axioma, sei lá… Amor que não se pede, amor que não se mede, que não se repete, parafraseando Toni Garrido e a sua banda Cidade Negra, icônica da era moderna da MBP! Deus do céu, já chorei muito, por diversas razões, com o meu objeto de paixão, o meu clube de coração, como também gargalhei pelos motivos mais distintos. Fui amigo pessoal de Oscar Cox, vi Marcos Carneiro de Mendonça, Mano, Fortes, Oswaldo Gomes, Preguinho, Ademir Menezes, Zezé e Aymoré Moreira, Altair, Bigode, Carlyle, Hércules, Orlando Pingo de Ouro, Romeu, Russo, Telê, Tim, vibrei com o nadador João Havelange, ajudei a confeccionar a Taça Olímpica, assisti à campanha do nosso Campeonato Mundial – a Copa Rio Internacional, de 1952, abracei Castilho, Veludo, Batatais, Píndaro, Jair Marinho, Pinheiro, Didi, Escurinho, Jair Francisco, Welfare, Waldo, Ivair…

Ops, peralá… pés no chão, menos devaneios, a pedidos gerais: os meus 116 anos são etéreos, projetados, retroagidos osmoticamente à inesquecível e histórica data de 21 de julho de 1902, no Rio de Janeiro – Distrito Federal, quando era fundado o Fluminense Football Club. Numa reunião, no casarão da Rua Marquês de Abrantes, bairro do Flamengo, número 51, residência de Horácio da Costa Santos, presidida por Manoel Rios e secretariada por Oscar Cox e Américo Couto, nascia o Flu! Por proposta de João Carlos de Mello e Virgílio Leite, Oscar Alfredo Cox foi aclamado o primeiro presidente do clube, assumindo então os trabalhos e transferindo Manoel Rios para o secretariado. Aí, uma outra proposta de João Carlos de Mello foi aprovada, e os vinte presentes na reunião seriam considerados os fundadores do clube!

Na realidade, o meu primeiro contato com o Flu num estádio foi na final do Cariocão de 1969, no Maraca, quando eu tinha apenas 7 tenros aninhos! Um Fla-Flu inesquecível, com mais de 170 mil cabeças, um 3×2 pro nosso tricolor, com gols de Wílton Mãozinha, Cláudio Garcia e Flávio, e um título arrebatador, repleto de retumbância, de glórias e de sabores das vitórias mil que caracterizam o Fluminense e embelezam o seu hino! Sempre fui pé-quente, desde os primórdios!

A partir daí, vi o Robertão/Taça de Prata de 1970 – o nosso primeiro Brasileirão (sobre ele, farei uma rápida inferência ali adiante), e passei a evocar ode às temporadas ímpares, pois papamos os Campeonatos Estaduais de 1971, 73 e 75, quando um tal de Francisco Horta, o nosso Presidente eterno, quebrou paradigmas e movimentou o velho e violento esporte bretão aqui no Rio: formou um elenco ainda mais poderoso – A Máquina, de 1976 -,  e nos regozijou com o bi-carioca! Pois é, xinguei Riva e Assis, e ironicamente, aplaudi Itaberá e Toinzinho, beijei e cuspi, mastiguei e não engoli, ignorei, em alguns momentos, o que me causou dor profunda, em suma, agi como um louco dicotômico nas ocasiões mais antônimas… Incongruências e bipolaridades normais dos torcedores legítimos, eu creio!

Aquela Taça de Prata de 1970, a que me referi logo acima, é que cauterizou definitivamente os meus sangramentos de amor incontestável ao FFC, herdado do meu velho e saudoso pai, um tricolor de sete costados e que sempre vivera do esporte, antes de tornar-se alto funcionário da Petrobras: fora goleiro do São Cristóvão e do Botafogo, e repórter de campo da TV e Rádio Rio – complexo midiático de maior referência, à época -, quando formou a dupla de Apolos, 10 e 11, com o Washington Rodrigues, hoje conhecido como Apolinho! Um Maracacã repleto de tricolores, dois timaços decidindo um grande campeonato, Flu e Galo – bastava-nos um simples empate -, e eu ali, no pescoço do meu pai, devido a um empurra-empurra surreal e à presença maciça de tricolores no estádio – mais de 130 mil pessoas estimadas! O fato é que eu eternamente fui fã dos quadrinhos da Disney, e meu ídolo era o imortal Mickey Mouse! Quando o nosso Mickey, centro-avante fadado aos grandes momentos, já que tratava-se de um reserva de luxo do ótimo Flávio Minuano, consignou o seu gol, ainda no primeiro tempo, e aqueles mais de 130 mil presentes desandaram a bradar o seu nome, eu pensei: “Pronto, se pairasse alguma dúvida sobre a minha ‘tricoloridade’, ela teria se desfeito agora… Como esse povo todo está berrando o nome do meu herói?”… Ah, essa inocência dos 8 anos, diluída homeopaticamente nos dissabores da vida e nas próprias mazelas que o meu Flu volta e meia apronta… Putz! A peleja terminou 1×1 – o Vaguinho empatou, no segundo tempo -, e o restante todos já sabemos!

O Flu reúne as essências mais íntimas daqueles que o próprio futebol já transporta, interpreta e compreende em todas as suas vertentes e congruências. Embarcam numa mesma aeronave figuras como o popular e cômico Tião Macalé e um dos cabedais da nossa cultura, Mário Lago; o irreverente Evandro Mesquita e o clássico Arthur Moreira Lima; o boa praça Hugo Carvana e a sisuda divindade Fernanda Montenegro; o poeta do jornalismo e experiente Pedro Bial e o aprendiz de portento José Ilan; o multi-cultural Raimundo Fágner e o genialíssimo Chico Buarque; a estonteante Letícia Spiller e o eterno R.P.M. Paulo Ricardo; o intelectual comediante e apresentador Jô Soares e o inveterado petista Paulo Henrique Amorim; a “divinha” Fernanda Torres e a belíssima Sharon Menezes; o ótimo Caio Blat e o pop star Lulu Santos; o comediante do Planeta Diário e do Casseta Popular, Beto Silva, e o imortal Tom Jobin; a apresentadora de telejornal Ana Paula Araújo e o fenômeno Pierluigi Buffon;  o segurança do meu condomínio, Ledenílson, e os ex-Presidentes da República João Figueiredo e FHC; o Marcelo Faria; o saudoso Careca; o ‘seu’ Armando, da Young Flu; o curitibano Assis; o baiano Washington; o paraguaio Romerito; o paulista Gum e o paulistano Ricardo Berna; e tantos outros que assumiram as três cores que traduzem tradição como as que coloririam os seus corações além da existência!

Torcer pelo Fluminense não nos reporta somente a conquistas, a vitórias, e sim à própria história do futebol mundial! Requer tempo entender o significado de tamanha responsabilidade aos incautos apaixonados por outras agremiações! Enquanto os demais são doentes pelos clubes A, B ou C, nós somos saudáveis, nossa volúpia é sadia e edificadora, muito embora nos vejamos munidos de uma autofagia irritante, eventualmente! Não somos a maior torcida do Brasil, não temos bando de loucos, não sentimos cheiros e olores a toda hora, não nos chamam de imortais, não queremos ser das viradas e do amor, temos a fidalguia do Cartola e a gana do Guerreirinho, dois de nossos mascotes, e absorvemos todas estas alcunhas, além de outras, de torcidas alheias, num só tom, num só coração, no oxigênio mais limpo e puro que a atmosfera puder produzir, enfim, somos todos o Fluminense Football Club!

Fugimos em velocidade, como os mais amedrontados gnus; cavamos tocas, como os mais escorregadios tatus; esgueiramos-nos nos matagais, como os mais assustados guaxinis; escalamos as íngremes árvores, como os mais rápidos bonobos; entretanto, igualmente, tecemos teias, como as mais hábeis aranhas; perseguimos a nossa presa, como o mais veloz guepardo; abatemos até mesmo os maiores e mais poderosos, como o destemido leão; e caçamos impiedosamente, como os vorazes tubarões! Portanto, jamais pensem que o Fluminense morreu – ou caminha para a própria tumba! Nossa imortalidade está retratada em cada alma que paira, de um outro plano, sobre as nossas cabeças; em cada suspiro que deixamos escapar ante a um desdouro; em cada topada que acidentalmente desferimos em nossas mobílias; e em cada sorriso que flui de forma natural de nossa face depois de um gracejo que reverencie o Flu! As pessoas passam, algumas até deixam saudades, mas a instituição jamais será maculada pela incompetência de uma meia-dúzia, e maus agouros e pessimismos de outros. O Fluminense é grande, enorme, gigantesco, infinito, e não precisa daqueles que devam ser lembrados diuturnamente desta inquestionável e inegociável certeza, crença, dogma, lei, máxima, postulado, premissa e princípio!

Saudações eternamente tricolores!

#SomosTodosFluminense

Ricardo Timon

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