Austeridade necessária




Foto; Lucas Merçon / Fluminense FC

Nossa última partida, contra o Grêmio, foi péssima, vergonhosa. Contudo, escrever com menos frequência que os demais colunistas do Explosão Tricolor, dessa vez, me permite uma análise mais otimista.

Isso porque, desde meu último texto, posterior ao empate contra o Ceará no Maraca, o saldo foi positivo, tanto de resultados quanto de atuações. 

Primeiro, vencemos o Santos com autoridade. Resultado importante, pois trata-se de um adversário direto, com jogadores de qualidade. 

Em seguida, vitória contra o Fortaleza, fora de casa. Ainda que a exibição não tenha sido das melhores e que jogássemos o 2º tempo com um a mais, fomos superiores em um confronto dificílimo. De acordo com o GE, tivemos mais posse de bola (53%) e chutamos mais a gol (11 a 4).

Só então veio a vexatória derrota, contra o Grêmio, sem jogarmos nada. A propósito, fica a puxada de orelha no Odair: não dá para escalar o Caio Paulista no 11 inicial tendo Luiz Henrique e Marcos Paulo à disposição. 

Entendo que nosso treineiro tenha seus meios de manter o controle do vestiário – algo absolutamente essencial e que vem sendo menosprezado atualmente-, mas aí me parece que perdeu um pouco a mão.

Contudo, o agregado é positivo: continuamos na briga para voltar à Libertadores. E isso tem o dedo do professor, que, depois de montar um time organizado e competitivo; de vê-lo sendo desmontado pela diretoria, que vendeu dois titulares (inclusive o melhor, Lewanilson); de encarar quase um time de desfalques por algumas rodadas, seja por lesão ou Covid; soube remontar a equipe (notemos as recentes variações do 4-2-3-1 para o 4-3-3, com jogadores mais velozes nas pontas).

…  

Nas últimas semanas, a torcida tem engrossado o coro por contratações, para que possamos lutar em melhores condições por vaga no G6. Eu mesmo pedi laterais e um substituto para o Lewa aqui na coluna. Hoje, contudo, penso diferente. 

Como sabemos, financeiramente, nosso Fluminense vive atolado em areia movediça. Para escapar, não há fórmula mágica, mas, com certeza, a solução passa por obter melhores resultados esportivos a custo baixo, que caiba nos bolsos de um gigante empobrecido.

É necessário, portanto, austeridade na gestão. Do contrário, seguiremos fadados a sonhar com técnico estrangeiro e ídolo feito em casa, mas acordar com salário atrasado e titulares doidos para debandar na primeira proposta.

Mas nossa situação já era conhecida. O que mudou para modificar minha opinião? 

Muitas coisas. Primeiro, Odair, sem contratar, entregou um time competitivo e organizado, não por algumas rodadas, mas por metade do campeonato. 

Segundo, nossas expectativas de arrecadação foram frustradas. Isso talvez responda o questionamento do Vinicius Toledo do texto dessa semana: e a disponibilidade financeira que tínhamos para contratar em caso de emergência? 

Para dizer com certeza, só estando dentro do clube. Mas, com o orçamento debaixo do braço, posso palpitar: evaporou junto com a frustração da venda do MP e com a eliminação precoce na Copa do Brasil. O clube previu 70mi de receitas com venda de atletas e premiação até as quartas do mata-mata. Passou longe de ambos. 

Aliás, o buraco pode ficar maior, já que o acordo com os jogadores para redução de salários no período da pandemia só valerá se terminarmos o ano com a folha em dia. Caso contrário, pode colocar na conta mais uma dívida milionária com o elenco e uma possível complicação do clima do vestiário.

Será que estamos com saudades de 2017, quando compramos o Robinho para brigar por Libertadores, em meio a crise de salários atrasados, mas o atleta não rendeu e a compra gerou insatisfação geral interna, que culminou com a perda do Scarpa na Justiça?

Terceiro, o clube já apostou suas fichas: para posições carentes, foram contratados Danilo Barcelos e Lucca. Ah, mas eles são ruins! Pessoal, a essa altura, é esse o tipo de jogador que temos condições para trazer, penso eu. Ficou faltando um lateral direito, aí sim uma contratação muito útil, desde que certeira, sob pena de termos mais uma aposta mal sucedida inchando as despesas nos próximos anos.

Por outro lado, austeridade, para além de controlar os gastos, abrange a manutenção de ativos. E aí entram as renovações de Dodi e Marcos Paulo.

Pessoal, o que o Dodi está pedindo não é nenhum absurdo. Se não renovar conosco, não tenham dúvidas que vai arrumar um clube que pague. Afinal, achemos justo ou não, o mercado oferece esses valores a titulares de clubes que brigam na parte de cima da tabela.

Se o Fluminense tem condição de pagar, é outra história. Minha impressão é de que tem, tanto que paga valores similares a outros jogadores, que muitas vezes não rendem na mesma proporção. Aliás, o mesmo Fluminense reticente na renovação, em fevereiro oferecia 17mi pelo Allan, jogador de nível, posição e idade similares. 

Quanto ao Marcos Paulo, então, o problema é ainda mais grave: trata-se de um moleque de 19 anos que mostrou muita bola no ano passado e nos render bastante, dentro e fora de campo. Oferecer um bom salário pela renovação é investimento indispensável. Está na hora de virarmos essa página de perdas de jóias, de graça.  

O próprio Mário, cabe dizer, afirmou que a diretoria planeja aumentar a folha para 2021. Aí estão duas oportunidades, com retorno muito provável.

Para falar de austeridade, hoje, não dá para desviar do assunto Ganso. Confesso que achei a contratação, à época, uma bola dentro: trouxe esperança de ter um 10 de verdade a uma torcida tão castigada. O risco de não jogar nada sempre existiu, só que clube na nossa situação às vezes precisa mesmo ousar.

Além disso, seu estilo de jogo se encaixava perfeitamente com outra aposta de 2019, o técnico Fernando Diniz. Ganso, aliás, na minha visão, foi bem sob o comando do ex-treineiro, enquanto responsável por encontrar espaços em defesas fechadas. Referência daquele time, participava do jogo o tempo todo, porque tínhamos quase sempre a bola, que sempre passava por ele.

Mas foi só isso. Para além de não decidir jogos (nunca esperei isso), o 10 não conseguiu se adaptar até hoje a um estilo de jogo que não seja pensado para beneficiá-lo. Não pode jogar perto da área porque não tem presença física nem finalização e não pode jogar recuado, porque não tem vigor para morder o adversário. 

Não para por aí. Na partida contra o Grêmio, entrou recuado com mais dois volantes ao lado, em tese algo que compensaria suas deficiências de marcação. Ainda assim, não a principal referência do time, fez partida péssima, inclusive na parte técnica. 

Ganso mostrou que pode ser útil. Nesse ano, foi quando entrou no fim dos jogos, para segurar o placar, e nas ocasiões de ataque contra defesa, como na derrota contra o Sport no Recife.

Mas, para ser o maior salário de um clube à beira da falência, é muito pouco. Caro porque onera a folha e também porque ocupa espaço de moleques que podem ser o nosso futuro.

Na próxima temporada, eu tentaria encontrar um destino para o atleta. Até lá, que perca espaço para MP e Miguel, que já não é mais uma criança de 16 anos, mas um jovem adulto de 18.

ATÉ AQUI NOS ANOS ANTERIORES:

2018 – Brasileirão: 26 pontos (9ª colocação); Sul-Americana: classificado às oitavas de final, após eliminar o Defensor-URU; Copa do Brasil: eliminado na 3ª fase pelo Avaí.

2019 – Brasileirão: 18 pontos (17ª colocação); Sul-Americana: classificado às oitavas de final, após eliminar o Atlético Nacional-COL; Copa do Brasil: eliminado nas oitavas de final pelo Cruzeiro.

Vale dizer que insisto em comparar com as temporadas a partir de 2018 porque este foi o primeiro ano que nos planejamos após termos a noção do rombo deixado pela gestão Peter Siemsen. É o ponto mais baixo do clube desde a saída da Unimed, que revelou o tamanho da nossa pobreza. A recuperação, portanto, começa a partir dali.

VENCE O FLUMINENSE!

Tarik Moussallem