O orçamento e as mudanças no Fluminense




Peter enfrenta um momento crucial a frente do Fluminense
Peter enfrenta um momento crucial a frente do Fluminense

Hoje tivemos a notícia de que o orçamento do Fluminense para 2015 foi encaminhado para votação no conselho deliberativo, com previsão de um déficit total de 46 milhões de reais, colocando em xeque todo o planejamento tricolor, não apenas para esta temporada, como para os próximos anos.

Isto porque, desde que assumiu o comando do Tricolor, o carro chefe da administração Peter Siemsen foi o equacionamento das dívidas do clube, muitas vezes em detrimento até mesmo de maiores ambições no futebol.

Este fato indica que dificilmente escaparemos da necessidade de venda de uma ou duas promessas recém chegadas ao time profissional, e que são responsáveis por um mínimo de competitividade que um clube como o Fluminense precisa ter no decorrer de uma temporada.

Já manifestei na minha coluna anterior toda a minha preocupação com uma eventual venda precoce do Gérson, demonstrando que esta necessidade levará ao completo fracasso da estratégia de montagem do elenco, baseada na mescla entre atletas experientes com história no clube e jovens promessas oriundas de nossas divisões de base.

Isto indica que a gestão Peter, apesar de todos os esforços louváveis na adequação financeira do clube, e na renovação de alguns jogadores importantes para o elenco, não conseguiu se preparar de forma eficiente para o encerramento do patrocínio da Unimed.

Não estou aqui caindo naquela esparrela de que o Fluminense acabará sem a Unimed, além de outras atrocidades vomitadas por pessoas invejosas, que demonstram não ter o menor conhecimento da história tricolor.

Mas não deixa de ser preocupante, no quinto ano de uma gestão, a entrega de um orçamento deficitário para votação junto ao conselho deliberativo.

E isto parece ser consequência de equívocos nas escolhas das várias estratégias de atuação nestes cinco anos.

A meu ver, temos três principais pontos a serem trabalhados com uma certa urgência, sem os quais os próximos mandatários tricolores terão muitas dificuldades na futura condução do clube. São eles:

1 – Aumento do número de sócios futebol. Aqui, precisamos dar os créditos corretos e soltar as merecidas pancadas. A atual gestão implementou o sócio futebol no Fluminense. Sem dúvida, um ótimo passo no processo de democratização do clube, e para o qual nunca havia se dado a devida importância nas gestões anteriores. É também, uma fundamental fonte de receitas. E é aí que mora o grande erro desta diretoria.

Estamos há muitos meses na faixa dos 23 mil sócios, atrás do Bahia, e muito distantes da maioria dos grandes clubes brasileiros.

E mesmo assim, nada foi feito pela diretoria para uma melhora efetiva deste programa.

Já abordei este assunto na minha coluna de estréia do Explosão. Acho sim que uma boa parte da torcida tricolor é acomodada, e se acostumou durante anos a ver a Unimed resolvendo a parte financeira do futebol.

Mas a diretoria tricolor não pode apenas empurrar a culpa pela estagnação do programa de sócios para a nossa torcida. Em um meio empresarial, como é hoje o futebol, é preciso entender o seu mercado consumidor, e a partir daí, lançar os produtos que melhor se adequem aos diferentes nichos deste mercado. E isto não foi feito até agora.

Supondo que o Fluminense possua cerca de 5 milhões de torcedores, não é absurdo pensar que, cerca de 2% deste contingente (100 mil pessoas), podem ser potenciais candidatos a sócios, desde que respeitados seus diferentes interesses e necessidades.

Falta uma melhor divulgação do programa, além de melhores produtos a serem criados que interessem a esta imensa gama de torcedores que ainda não se associou.

E isto tem que ser organizado para ontem.

2 – Cotas de televisão. Ok, tivemos um substancial aumento nas nossas receitas neste caso. Então, apesar do flagrante abismo que nos separa de Flamengo e Corinthians, isto deveria jogar a favor do nosso superávit, e não contra, certo? Errado.

Vejamos os valores que serão pagos pela rede globo a partir de 2016.

Flamengo e Corinthians – 170 milhões de reais; São Paulo – 110 milhões de reais; Vasco e Palmeiras – 100 milhões de reais; Santos – 80 milhões de reais; Fluminense, Cruzeiro, Atlético-MG, Botafogo, Internacional e Grêmio – 60 milhões de reais.

Ou seja, a cada ano, o Fluminense terá menos 110 milhões do que o primeiro grupo, menos 50 milhões do que o São Paulo, menos 40 milhões do que terceiro grupo, e menos 20 milhões do que o Santos.

As consequências disso, são que estes clubes terão mais exposição na TV, afinal de contas a Globo vai querer dar mais exposição a quem mais recebe. Logo, terão mais capacidade de captação de patrocínios do que o Fluminense. E, em razão disso, pagarão melhores salários por seus jogadores.

Logo, se o Fluminense quiser tentar competir com estes clubes, precisará aumentar sua folha salarial. E isto resulta em aumento de despesas e impacto direto no orçamento do clube.

E qual a responsabilidade desta diretoria nisso? Foi ela quem assinou este novo acordo com a TV Globo, e pior ainda, sua renovação nestes termos.

Não há o que se fazer até 2019, mas é obrigação de nossos dirigentes começarem a se movimentar por uma distribuição mais justa, e que respeite as tradições do futebol brasileiro.

Já temos alguns clubes se movimentando neste sentido. Mas, e o Fluminense?

3 – Patrocinadores para os demais espaços da camisa. Aqui não tem muito o que falar. O Fluminense agiu rápido ao anunciar a Vitton 44 (ainda não estou convencido de que o patrocínio foi fechado em valores condizentes com nossa camisa), a Frescatto, mas precisa urgentemente de ao menos mais dois patrocínios. Do contrário, as únicas opções para zerar o orçamento será mesmo a venda de nossos jogadores.

Enfim, entendo que a gestão Peter Siemsen enfrenta talvez o momento mais crucial de todo o seu mandato.

Se for bem sucedida, poderá ser lembrada como uma gestão que ajudou a sanear o clube, e fez o Fluminense andar com suas próprias pernas depois de anos.

Mas, se falhar, certamente será lembrada como uma gestão que não conseguiu os avanços desejados pela torcida, além de deixar de lado o departamento de futebol.

Uma coisa é certa. A opção pela venda precoce dos garotos, sem qualquer avanço nos três itens apontados acima, nos levará a correr sérios riscos este ano.

Como torcedor do clube, já manifestei aqui meu receio por este novo modelo de contratações, somado à venda de jovens jogadores, sem que eles possam trazer retorno técnico ao time profissional.

Mesmo com estes jogadores, nosso elenco já dá mostras de ser bastante modesto para a maratona do campeonato brasileiro, uma vez que três desfalques já são suficientes para prejudicar o desempenho da equipe diante de um Macaé da vida.

Assim, torço muito para que esta gestão acerte e equilibre as contas do clube, sem prejudicar o andamento do futebol.

É fácil? Não. Eu tenho uma solução mágica para apresentar? Tampouco. Mas eu não sou dirigente, sou apenas um torcedor que faço minhas críticas e elogios.

Criatividade, competência e noção do tamanho do Fluminense. É isso que pedimos e exigimos da diretoria.

Abs,

Alan Petersen