Abelão, você é o nosso paizão!





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Foto: Fluminense
O emocionante encontro em Montevidéu (Foto: Nelson Perez / Fluminense)

Foi no início de 2005 que passei a acompanhar o Abel Braga mais a fundo. Na época, Abelão assumiu o comando técnico do Fluminense pela primeira vez na sua carreira profissional. Meu pai, o saudoso Dr. Toledo, que era tricolor fanático, estava feliz da vida. Segundo ele, finalmente estávamos em boas mãos. 

No início do trabalho, o nosso comandante encontrou muitas dificuldades. Aos poucos as coisas foram se ajeitando e o Fluminense levantou o seu trigésimo título carioca. Na sequência, conseguimos uma vaga na final da Copa do Brasil contra o Paulista de Jundiaí. A empolgação do meu pai era tanta que ele só falava uma coisa: “Ano que vem estaremos no Japão com o Abelão e o Fluzão”. Ninguém segurava a empolgação do coroa. Dava gosto de ver!

Ao longo do dia 15 de junho de 2005, meu pai deu alguns sinais estranhos de confusão mental e uma fraqueza física. Eu estava no trabalho, minha mãe me ligou para avisar. Saí mais cedo do trabalho, fui logo correndo no coroa e fiz algumas perguntas para confirmar se ele realmente estava mal. Infelizmente, constatei que o quadro era preocupante. O detalhe é que naquela quarta-feira era o dia do primeiro jogo da final da Copa do Brasil. Por volta das 19h, meu coroa passou mal, foi para a emergência, lutou pela vida, mas dois dias depois acabou partindo.    

Destruído em todos sentidos, fiquei isolado do mundo. Nem o ingresso comprado para o jogo de volta contra o Paulista me sensibilizava. Com muita insistência, o meu compadre Carlos Guimarães Tovar conseguiu me convencer quando disse o seguinte: “Vinicius, seu pai estará lá também. E ficará muito chateado se você e o seu irmão forem”. Meu irmão, Thiago, também foi convencido. Confesso que sentei na arquibancada de São Januário, mas não conseguia enxergar nada. Ainda estava totalmente arrasado. A bola rolou, a equipe lutou bastante, mas o título não veio. Após o apito final, eu só queria saber de ir embora, entretanto, uma cena me chamou atenção: a explosão de emoção do Abel Braga. O cara tirou a camisa, explodiu aos prantos no gramado e foi em direção aos torcedores para se juntar ao sofrimento da arquibancada verde, branca e grená. Foi uma cena que me marcou bastante e fez com que o Abel ganhasse o meu respeito e admiração. 

Quase doze anos depois do falecimento do meu pai, para ser mais exato, no dia 9 de maio deste ano, embarquei para Montevidéu, no Uruguai. Pela primeira vez, desde a sua fundação, ocorrida no dia 17 de agosto de 2014, o portal Explosão Tricolor fazia a sua primeira viagem internacional para cobrir o Fluminense no duelo contra o Liverpool, válido pela Copa Sul-Americana. No bolso do casaco, uma faixa de mão dobrada com a frase que mais representa o sentimento do torcedor do Fluminense: “ORGULHO DE SER TRICOLOR”.

Eu, Daniel Coelho e Rodrigo Souza saímos do Rio de Janeiro e fizemos uma escala em São Paulo para depois embarcar rumo à Montevidéu. Com muita sorte, conseguimos pegar o mesmo voo da delegação tricolor. Como torcedor, fiquei feliz da vida. Além da delegação, haviam muitos torcedores, entre eles, os amigos Nathan Sena e Anderson Rocha, amizades iniciadas ali mesmo. A resenha rolou bonita, o clima lá nas alturas foi algo bastante positivo. 

No desembarque em solo uruguaio, eu tinha somente um objetivo: entregar a faixa de mão ao Abelão. O presente era simples, mas o valor sentimental que estava inserido nela era enorme. Ali estava o sentimento do meu saudoso pai, a explosão de emoção do Abel após a derrota na final da Copa do Brasil 2005 e a firmeza de que estávamos fechados com ele mesmo tendo perdido a final do Campeonato Carioca no domingo anterior.

Como a fé move montanhas, enquanto todos cercavam os jogadores para tirar fotos, procurei o Abelão. Quando achei o nosso velho guerreiro, ele estava conversando com o Leomir e mais alguém da comissão técnica. Passei por ele com o Rodrigo e fiquei parado alguns metros depois para aguardar a passagem dele. Seria a chance de pará-lo para dar o presente e um forte abraço no nosso comandante. Poucos minutos depois, ele veio. O presente foi dado com um discurso que deixou o Abelão com a voz embargada. Outro torcedor começou a chorar. Agradeci ao nosso treinador por ele ter resgatado o orgulho de ser tricolor com uma molecada guerreira e que a torcida estava fechada com ele. Ainda comentei que o jeitão dele lembrava muito o do meu pai. Com muita humildade, Abel me disse que ele que tinha que agradecer todo o apoio da torcida e tudo que havíamos feito na arquibancada nos dois jogos da final do Estadual.     

Ontem, o nosso querido Abel Braga levou uma senhora porrada da vida. O caçula dele, João Pedro, foi ao encontro de Deus. E a torcida tricolor acusou o golpe. A dor dele e de toda a sua família também é nossa. A única coisa que podemos fazer neste momento é orar com todo o nosso amor, carinho e consideração que temos com esse grande homem que sempre nos orgulhou bastante. 

Abelão, você é o nosso paizão. Estamos juntos, guerreiro! 

Forte abraço e Saudações Tricolores

Vinicius Toledo

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