Ganso, uma vítima do talento




Paulo Henrique Ganso (Foto: Lucas Merçon / Fluminense FC)

O que irrita no jogador Paulo Henrique Ganso? Ele não nos deixa esquecer que o talento também pode ser insuficiente. É aceitável que qualquer coisa possa ser insuficiente, menos a falta de vontade para exercer um talento inato. O talento, por si só, não basta. Até o oxigênio pode ser rarefeito, menos o talento inexplorado. Um casamento pode completar todo um calvário de bodas sem amor. A falta de vontade para o exercício da genialidade, contudo, irritaria um monge cheio de calmantes. É impossível que a torcida tricolor não esteja irritada.

Uma outra verdade: Ganso nos lembra a cada rodada, a cada jogo que, no fundo, uma semana cotidiana, normal e pacífica tem o poder de nos fazer arrepender da vida inteira. Com a derrota, a semana será um calvário para todos nós. Ganso é um homem amaldiçoado pelo talento, amaldiçoado pela falta de vontade para exerce-lo – parece arrependido de ter nascido com um enorme potencial. Quem nunca cometeu o pecado de se arrepender de ter nascido que, por favor, atire a primeira certidão de nascimento. 

O talento pode ser um aliado da indisposição. Algo quase fisiológico e involuntário – uma náusea. Ganso desistiu do jogo. Paulo Henrique abdicou do que era e, principalmente, do que poderia ser. A depender do caso, a renúncia de “poder-ser-algo” pode ser o maior ato de coragem ou fadiga. O caso de PHG parece uma coincidência de ambas as coisas. Desistir de ser craque é um erro que pensa com duas cabeças, a da coragem e a do mal-estar. No fundo, o futebol é apenas o grande mostruário da nossa condição humana. O talento pode ser a maior das maldições…

O caso Ganso não é inédito. Na verdade, o futebol brasileiro já viu esse filme. Muitos jogadores promissores, talentos insofismáveis, nos enganaram. No passado, eles eram chamados de enganadores. Muitos desistiram da possibilidade de ser-algo, da possibilidade de ser-craque. A renúncia continua e deve permanecer inexplicável por muito tempo. Ganso é mais um capítulo do inexplicável que, ao mesmo tempo, não nos deixa esquecer algumas verdades constrangedoras – a primeira delas, a insuficiência do talento. 

Por outro lado, nossa crítica deve buscar a justiça: na derrota contra o Grêmio, Paulo Henrique não foi o único que esteve abaixo da crítica. Não. O Fluminense fez uma partida triste, melancólica e, ao mesmo tempo, jogou um balde de água fria nos torcedores. Erramos muitos passes, criamos pouco, exercemos uma posse de bola morta. A posse de bola improdutiva é uma mala cheia de cédulas falsas: uma letra de câmbio que não vale nada! Apesar do aviltamento coletivo praticado contra a bola, o jogo de Ganso nos chama a atenção – o talento do meia tem o poder de despertar nossa esperança e, longo em seguida, causar a decepção geral.

E é da esperança que nasce a irritação. Só a esperança frustrada tem o poder de despertar no torcedor a irritação genuína, os decibéis furiosos da vaia. Ganso foi o retrato da frustração geral: um time que precisava engrenar e jogou de forma patética. Não estou perseguindo o jogador. Repito: não foi o único que praticou um péssimo futebol. Nosso meia, entretanto, parece conformar a síntese do Fluminense na temporada: acorda o otimismo no coração do torcedor e, no instante seguinte, desaponta …

Teixeira Mendes

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Confira os próximos cinco jogos do Flu na temporada:

21ª rodada

14/11 – Sábado – 21h30  – Palmeiras x Fluminense – Allianz Parque

22ª rodada

22/11 – Domingo – 18h15  – Internacional x Fluminense – Beira-Rio

23ª rodada

30/11  – Segunda-feira – 20h – Fluminense x Red Bull Bragantino – Maracanã

24ª rodada

05/12 – Sábado – 19h  – Fluminense x Athletico-PR – Maracanã

25ª rodada

14/12 – Segunda-feira – 20h  – Vasco da Gama x Fluminense – São Januário

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