Ingresso mascarado de cortesia




E nesta semana começamos o resto da temporada. Na quarta-feira, o time recebe o Nacional Potosí no Maracanã. Já no domingo vai a São Paulo encarar o Corinthians no Itaquerão. Partidas importantes que servirão de termômetro para o que o Fluminense poderá conquistar neste ano.

Pra mim, a manutenção na primeira divisão já será um grande feito. Apesar da esperança criada nos últimos jogos do time, não acredito que o Tricolor tenha qualquer chance no Brasileirão e muito menos na Sul-Americana. E dizer isso dói em todo torcedor tricolor.

Um time com a tradição do Fluminense não pode viver de lutas para se manter na Série A do Brasileirão. Por mais que o discurso de austeridade seja a tônica da diretoria, o que justificaria a ausência de reforços, fato é que o clube é grande demais para se contentar com tão pouco.

Vejo que muita gente escreve sobre as dívidas do Fluminense e as chancelam como se fossem verdadeiras. Mas, onde está a comprovação de que existência? Como acreditar que um clube deve sem que, de fato, isso fique demonstrado em números?

Essas informações são importantes porque o torcedor é o destinatário final do produto futebol. É ele que, em última análise, deve ser respeitado na hora de se realizar os gastos do clube e é por ele que o time sobrevive. Sem o futebol, o Fluminense seria apenas um clube de piscina perto da falência (ou já nem existiria). Vamos combinar que a sede social é bem “ruinzinha” e não possui qualquer atrativo para o público, salvo a sensação de pisar no solo que é o berço do futebol brasileiro.

Do site da Controladoria-Geral da União adaptamos o conceito de que uma gestão transparente permite aos torcedores e à sociedade em geral, com informações, colaborar no controle das ações da diretoria dos clubes, com intuito de checar se os recursos estão sendo usados como deveriam.

Na verdade, ela é o melhor antídoto contra a gerência desastrada ou criminosa de uma organização. É por meio dela que um clube de futebol cumpre a legislação que o obriga a ser transparente com os sócios e os torcedores.

É pela transparência que se observa outra exigência legal contida no art. 3º da Lei do PROFUT: a manutenção de um Conselho Fiscal autônomo. Sem isso o clube não pode aderir aos benefícios fiscais garantidos pela lei. Apenas para exemplificar, o Fluminense possui débitos fiscais parcelados por causa dessa legislação. Se não fosse por ela, certamente diversos ativos do clube estariam penhorados, incluindo a própria sede de Álvaro Chaves e as receitas decorrentes do contrato de TV e da venda de jogadores.

Para um clube cujas dívidas fiscais superam os R$ 100 milhões, perder o direito ao parcelamento seria o pior dos mundos, e o Fluminense flerta com isso ao não manter um Conselho Fiscal autônomo e ao sonegar informações aos seus torcedores e associados. E a ausência de autonomia do Conselho Fiscal é tão certa que o atual presidente foi o chefe do setor na gestão de Peter Siemsen e agora critica a própria gerência cujas contas ajudou a aprovar.

E qual a solução amarga num cenário como esse? Os dois remédios mais usados pelos clubes brasileiros são: a venda de jogadores e o empréstimo bancário ou arrolamento da dívida, que no final também acaba em pagamento de juros. O agravante é que esta última opção está cada vez mais escassa, principalmente porque o time não possui muitos ativos para dar em garantia ante o fatiamento das suas promessas com os empresários do futebol. E este último problema impacta também na primeira solução, que é o de se desfazer de seus atletas ainda precocemente.

A transparência é também uma questão de humildade gerencial. Nunca se sabe tudo e a abertura das contas pode incentivar os interessados em auxiliar o clube na sua gestão. A auditoria da Ernst & Young, apesar de ser uma saída técnica muito adotada no mundo corporativo, mostrou-se totalmente inútil diante do inchaço da máquina com a contratação de diversas pessoas jurídicas/individuais para atender aos interesses não se sabe de quem. Do clube certamente não foi.

Outro fato que não pode passar batido é que a transparência inibe os comentários sobre o destino do dinheiro do clube. É claro que uma gestão que não preza por ela será muito mais questionada, já que esta “técnica” de administrar leva à desconfiança natural daquele que não possui acesso às informações. Pegando um gancho na coluna do Vinícius Toledo de ontem, onde foram parar os mais de R$ 300 milhões que o clube ganhou nos últimos anos com a venda de jogadores? Nenhum torcedor que não esteja nas entranhas das Laranjeiras (leia-se: PJ’s) tem condições de responder a tal pergunta. E esse clima hostil e de desconfiança só existe porque não se tem clareza nas contas.

A principal sugestão que posso dar ao clube para aprimorar a sua gestão é adotar a transparência como processo real de governança. Nada de números soltos em um balanço mal elaborado. Isso gera dúvidas e toda sorte de desconfiança. Estou falando de informar claramente as receitas e despesas. Afinal, basta lembrar da farra dos ingressos para as torcidas organizadas no ano passado. Resultou na prisão de alguns membros da diretoria e nos famosos ingressos mascarados de “cortesia” para o torcedor dito profissional. Isso é demais!

E é assim, com a ausência completa de informações úteis à mais exigente torcida do país, que iniciaremos os dois últimos campeonatos do ano, certos de que não almejamos nada e cheio de dúvidas sobre a necessidade de termos tantos problemas assim.

A pergunta que fica é: quando o torcedor poderá ver as contas? Não o torcedor do ingresso mascarado, mas aquele que realmente se preocupa com o dia-a-dia do time.

O Fluminense merece bem mais que isso e a torcida tem o direito de participar da vida do clube!

Ser Fluminense acima de tudo!

Evandro Ventura



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