Veja como Flamengo, Corinthians e Vasco tiveram evidentes vantagens na confecção da tabela do Campeonato Brasileiro




Campeonato Brasileiro

Amigos, hoje temos o retorno do Brasileirão, paralisado durante a Copa do Mundo, depois de jogadas 12 rodadas. Abordarei a confecção da Tabela, analisando algumas esquisitices verificadas na mesma.

Alguém tem ideia dos critérios usados para a elaboração de uma tabela de campeonato? Na verdade os critérios nunca foram muito claros, e muitas vezes situações estranhas ocorrem nas competições.

Em primeiro lugar, sabemos que há diversos fatores que devem ser levados em conta. Alguns são bastante óbvios e conhecidos.

Por exemplo, destacamos logo de cara que a emissora de TV que paga polpudas quantias aos clubes participa ativamente da elaboração da tabela, e o interesse maior é dela. Neste sentido, horários e distribuição de jogos ao longo dos dias da semana devem atender diretamente aos interesses da grade da programação, seja na TV aberta (Rede Globo), seja na fechada (Sportv e Canais Premiere, que na verdade são também da TV Globo).

Assim, cada rodada deve ter pelo menos uns dois jogos de interesse da emissora em cada horário nobre do esporte da TV aberta, quais sejam, quarta-feira depois da novela e domingo à tarde.  Dois jogos pelo menos para que possam ser atendidas todas as cidades, pois, por exemplo, normalmente (salvo exceções) a cidade onde se realiza o jogo deve receber a transmissão de um outro jogo.

Os demais jogos são distribuídos nos outros horários de interesse pelos canais Sportv e Premiere, para que sejam vendidos pacotes pay-per-view, cotas de patrocínio etc.

Tudo muito estudado, de acordo com interesses da programação, procurando também, na medida do possível, atender a interesses de telespectadores e dos anunciantes.

Os torcedores de estádio? Estes, coitados, que se virem para sair de estádios à meia-noite mesmo, em cidades violentas, muitas vezes morando longe e tendo que trabalhar cedo no dia seguinte.

Um outro fator importante a ser levado em conta é o de equilibrar os jogos numa mesma cidade, tanto para a distribuição para a TV quanto para que torcidas rivais dentro de uma mesma cidade não se encontrem em meios de transporte e nas ruas em horários próximos.

Assim, por exemplo, devem ser evitados jogos de Cruzeiro e Atlético/MG em Belo Horizonte num mesmo dia, Inter e Grêmio, os grandes do Rio e de São Paulo etc.

Também procura-se um equilíbrio entre as rodadas, de forma que, na medida do possível, não ocorram rodadas sem clássicos do futebol brasileiro, e outras com muitos clássicos.

Da mesma forma os clássicos locais devem ser distribuídos de forma que não fiquem para as últimas rodadas, uma medida adotada há algum tempo, no sentido de evitar grandes tensões entre torcedores, justo nos momentos decisivos do campeonato.

Outro fator a ser observado é a articulação entre as rodadas do Brasileirão e dos demais campeonatos, como Copa do Brasil, Sul-Americana e Libertadores, evitando-se, por exemplo, que um time que jogue numa quinta-feira pela Libertadores tenha um compromisso sábado pelo Brasileirão.

Há também rodadas especiais, como por exemplo nos fins de semana de eleições, quando os jogos são distribuídos ao longo da semana e sábado, para que não haja futebol no domingo da eleição.

Enfim, são muitos os fatores considerados, o que torna uma tarefa aparentemente simples em algo bastante complexo, e além disso não raro vemos alterações na tabela, a pedido normalmente dos clubes, em função de logísticas para atender aos novos compromissos que vão surgindo ao longo do ano, como a marcação de jogos decorrentes de uma nova fase de uma competição das Américas, ou até pela Copa do Brasil.

Sim. Até aí tudo claro. Concluímos que muitos fatores regem a difícil confecção de uma tabela.

O que não fica muitas vezes claro é por que muitas vezes observamos um time tendo um início de tabela muito tranquilo em total desequilíbrio com outros times, que só enfrentam “pedreiras” logo de cara.

O argumento que logo aparece para combater essa crítica é de que “em campeonato de pontos corridos no final dá tudo na mesma, pois todos terão que jogar contra todos mesmo, em jogos de ida e volta”.  Tal argumento é totalmente inverídico!

Quantas não são as vantagens de começar logo um campeonato com adversários mais tranquilos, tendo a possibilidade de tomar a dianteira da tabela por algumas rodadas?

No início da competição as equipes que vieram da Série B normalmente ainda estão se adaptando na competição principal, algumas não jogavam na Série A há tempos. Seus elencos ainda estão sendo montados e avaliados nos primeiros confrontos, e vão sendo alterados de acordo com a resposta em campo.

Até aquele time grande que vem da Série B, e neste ano temos o claro exemplo do Internacional, normalmente oscila nas primeiras rodadas, voltando a se acostumar àquele nível de jogo e de novos investimentos. Isso ocorreu com o Inter nas primeiras rodadas, quando esteve, inclusive, frequentando a zona de rebaixamento. Sempre uma vantagem enfrentá-lo no início.

Quem não gosta de começar a competição logo com jogos mais fáceis, conquistando os pontos e a consequente estabilidade emocional de sua equipe, passando confiança para sua torcida, que passa a frequentar mais os estádios e produzir maior apoio e melhores rendas?

Um bom início ainda ajuda a vender planos de sócio-torcedor, pacotes de pay-per-view (onde o clube tem participação na receita) e produtos licenciados. Além de poder captar novos patrocinadores, fora a valorização de jogadores, que podem render mais lucros em caso de negociações.

Serve também para estabilizar um treinador menos experiente, acalmar a torcida e promover a tranquilidade para o trabalho da equipe.

Quando começam a aparecer adversários mais complicados, a equipe está mais estabilizada emocionalmente, e mesmo eventuais derrotas podem não afetar tanto a posição na tabela, face à “gordura” de pontos obtida na sequência mais tranquila.

Querem argumentos de que isso claramente ocorreu este ano, de forma tão escancarada que derruba qualquer possibilidade de ter sido “coincidência”?

Pois bem, separei 8 equipes, 4 que vieram da Série B e 4 que claramente não estão entre os grandes do futebol Brasileiro, e sabidamente entram na competição com pretensões bem mais modestas, ainda que ao longo do torneio contrariem esta tendência, por méritos próprios. Vamos chamar este grupo de 8 times de T8.

Compõem o T8:

Os 4 vindos da Série B: Internacional, América/MG, Paraná e Ceará.

Os 4 considerados mais fracos, pelo menos no início da competição, também por terem menor investimento: Sport, Vitória, Bahia e Chapecoense.

Repito: o Internacional é time grande, mas veio da B e é natural que oscile no início da competição, o que realmente ocorreu. Portanto, sempre bom enfrentá-lo logo.

O Sport até está bem colocado, mas começou muito mal, pois já vinha mal desde o ano passado, quando quase caiu, e certamente começou a competição como candidato ao rebaixamento.

Vamos agora listar os demais times da competição, todos clubes de tradição, e observar quantos times deste T8 eles enfrentaram nos primeiros 12 jogos, faltando, portanto, 7 rodadas para terminar o primeiro turno.

Por ordem de classificação:

Flamengo – Enfrentou 7 times, sendo 4 em casa

Atlético/MG – Enfrentou 5 times, sendo 3 em casa

São Paulo – Enfrentou 6 times, sendo 3 em casa

Grêmio – Enfrentou 6 times, sendo 2 em casa

Palmeiras – Enfrentou 5 times, sendo 4 em casa

Cruzeiro – Enfrentou 5 times, sendo 1 em casa

Botafogo – Enfrentou 5 times, sendo 2 em casa

Corinthians – Enfrentou 7 times, sendo 3 em casa

Vasco – Enfrentou 7 times, sendo 4 em casa

Fluminense – Enfrentou 3 times, sendo 1 em casa

Santos – Enfrentou 5 times, sendo 4 em casa

Atlético/PR – Enfrentou 5 times, sendo 1 em casa

É fácil observar que Flamengo, Corinthians e Vasco foram os times que mais enfrentaram os times do T8, tendo os três já enfrentado 7 dos times nas primeiras 12 rodadas, tendo ainda o Flamengo e o Vasco enfrentado este grupo em quatro ocasiões jogando em casa.

O Flamengo ainda conseguiu a incrível marca de enfrentar 5 dos seus 7 confrontos contra os T8 nas 5 primeiras rodadas, contrariando qualquer lógica de que isso possa ter ocorrido aleatoriamente. Não há possibilidade de que esta sequência seja fruto do acaso. Enfrentou na primeira rodada o Vitória, que mesmo fora de casa costuma ser um jogo com boas possibilidades de triunfo. A seguir pegou o América/MG no Maracanã, em jogo teoricamente tão mais tranquilo que até fez uma festinha de despedida de seu goleiro. Depois pegou o Ceará fora, ainda deslumbrado e tonto com a volta à Série A, o Internacional, ainda se reacostumando aos investimentos da Série A, no Maracanã, e a Chapecoense fora, ocasião em que inclusive foi surpreendido e acabou derrotado, mas num jogo em que tinha tudo para vencer.

Portanto, os cinco primeiros jogos do Flamengo foram contra três adversários que vieram da B e dois dos mais fracos da competição para começar a campanha! Que tal?

Impossível que não tenha sido encomendado ou direcionado.

Só para uma rápida comparação, o Fluminense começou fora contra o atual campeão, o Corinthians, depois pegou logo o Cruzeiro e o São Paulo no Maraca, Vitória fora (o único mais tranquilo, tanto que venceu) e Botafogo no Engenhão.

O Fluminense, por sinal, foi o clube que menos enfrentou este grupo de 8 times, e o fez em apenas 3 confrontos, sendo somente um em casa (Chapecoense)!  Depois dele quem menos enfrentou o grupo dos 8 somou 5 confrontos!

Por que a tabela não pode ser mais equilibrada para todos, sem tantas discrepâncias, como as que facilmente podem ser observadas na listagem acima, à qual me dei ao trabalho de levantar após minuciosa pesquisa na tabela?

E tem mais: num ano em que há uma longa parada para a disputa de uma Copa do Mundo, a vantagem de um começo bem mais tranquilo é ainda maior, pois durante a parada houve inclusive uma intertemporada com férias coletivas na maioria dos elencos, o que promove um grande descanso muscular e reinício da carga igual para todos, no momento em que adversários supostamente mais difíceis deverão ser enfrentados.

Repito: não me venham com a argumentação de que no final dá tudo na mesma em campeonato de pontos corridos. Por todos os fatores que apontei e outros mais, com toda a certeza, neste caso, a ordem dos fatores altera o produto!

O equilíbrio de complexidade de forças não só garantiria uma maior lisura ao Campeonato, como daria oportunidades iguais a todas as equipes. Tudo em nome de uma disputa mais justa e da maior credibilidade à organização do evento.

OBSERVAÇÕES SOBRE A SEQUÊNCIA DOS 12 TIMES NOS CONFRONTOS CONTRA OS TIMES DO T8:

– Como Já destaquei, Flamengo, Corinthians e Vasco são os clubes que mais enfrentaram T8 nas 12 primeiras rodadas, com 7 confrontos. Sendo que Flamengo e Vasco jogaram 4 em casa, e o Corinthians 3.

– Em seguida aparecem São Paulo e Grêmio, com 6 confrontos, com 3 e 2 jogos em casa, respectivamente.

– A seguir, com 5 confrontos contra os times do T8 surgem Atlético/MG, Palmeiras, Cruzeiro, Botafogo, Santos e Atlético/PR. Destes, é bom frisar que Palmeiras e Santos já enfrentaram 4 em casa, o que é uma vantagem considerável.

– Por último, e isolado com menos confrontos, vem o Fluminense, num flagrante desequilíbrio na distribuição de jogos, com apenas 3 confrontos, sendo somente 1 em casa! Como pode?

– Antes que me questionem por que não incluí o Atlético/PR no grupo do T8, transformando-o em T9, lembro que não havia uma expectativa de campanha tão ruim da equipe. Se hoje ele está em 19º no Campeonato, não era isso que se esperava no momento da confecção da tabela, que é o que trata esta matéria.

A tabela da competição é feita normalmente com uns três ou quatro meses de antecedência, não se sabe com que nível de transparência, e de repente é divulgada no decorrer ainda dos Estaduais. Os clubes não se importam muito, mas se não abrirem o olho já estarão envolvidos em uma injusta sequência de jogos, e só depois descobrirão isso.

Ser “agraciado” com uma sequência bastante favorável e sair tirando onda de cheirinhos e “segue o líder” é mole… O caminho e a logística para o planejamento ficam evidentemente muito mais fáceis. Só não é NADA JUSTO!!!

Sete jogos dentre os oito teoricamente mais fáceis para três clubes e apenas três para outro é completamente desequilibrado! Cinco jogos contra times do T8 nas cinco primeiras rodadas para um mesmo clube é um escárnio!

Teria a diretoria da CBF condições de explicar os critérios para a confecção da tabela, e o motivo de tantos desequilíbrios de forças? Só não tentem me convencer que foi coincidência, ou que foi algo aleatório. Ah… Isso não foi mesmo!!!

E que no ano que vem a tabela seja muito mais equilibrada, e justa! Estaremos de olho!

Com a palavra a Confederação Brasileira de Futebol!

Por PAULONENSE / Explosão Tricolor

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