Celso Barros fala sobre Mário Bittencourt, feudos políticos do Fluminense, falta de patrocínios, futebol, comunicação e muito mais




Foto: Mailson Santana / Fluminense F.C.



Em entrevista concedida ao portal ge, na última sexta-feira, Celso Barros não escondeu a mágoa pelo seu afastamento, embora ainda evite querer virar oposição para as próximas eleições. Ele também reclamou da existência de “feudos” no clube e da falta de patrocínios; disse se sentir desconfortável “por não poder fazer nada” e alegou que a ruptura com Mário só prejudicou e desvalorizou a imagem do Fluminense no mercado.

ge: O que o senhor faria se estivesse no comando do futebol neste momento?

– Não vou aqui comparar situações. Eu acho mais desagradável nisso tudo, isso foi falado lá atrás, é que eu e Mário fomos eleitos dentro de um compromisso de lutar para não apequenar o Fluminense. Ele assumiu comigo o compromisso que eu trabalharia na coordenação do futebol. Evidentemente, nós entramos e aconteceram aquelas coisas que as pessoas sabem. Eu acabei saindo dessa coordenação, e aí na situação de vice geral, tricolor como sou e pela história que consegui lá atrás, vejo com muita tristeza esse processo que a gente trabalhou para fazer mudanças importantes no clube. Principalmente clube de futebol. Nesse aspecto, acho que não está evoluindo legal.

– No futebol precisariam ser feitas várias mudanças, não são nomes específicos, mas uma série de situações. Comentei com o Mário lá atrás que existiam alguns feudos no futebol do Fluminense. Ele respondeu que feudo existe em qualquer lugar. Eu não concordo com essa ideia. Se existem grupos para serem mantidos a qualquer preço, cabe ao gestor de futebol e ao presidente dizer que isso não existe. Isso já foi um problema inicial, nem vou falar de “Flusócio”, essas coisas. Mas o Mário tem muita dificuldade em mudar as coisas.

– Acho que um gestor, seja no futebol, no vôlei, na empresa, tem que ter em algum momento coragem para fazer mudanças que considerar adequadas. Independentemente de opiniões, pode acertar ou errar.

Acha que houve um erro no planejamento da temporada?

– Contratação de jogador você sempre vai errar, mas tem que minimizar ao máximo, acertar mais do que errar. Mas vai errar, seja eu, ele, qualquer um. Quando trouxe o Cícero e o Soares, o grande nome era o Soares, acabou que quem deu certo foi o Cícero. Então isso acontece, seja quando eu estava lá, seja agora na formação do elenco. Mas hoje, o grande responsável, e ele desejava isso ao promover a minha exclusão, chama-se Mário Bittencourt. Quis assumir uma posição que sabe tudo.

– Se houve erro ou não, esse planejamento é de responsabilidade dele. Ele pode ouvir um ou outro, mas tenho absoluta certeza que nada sai dali a não ser o que é fruto da vontade dele. A vida é assim. Se tivesse avançado na Copa do Brasil, na Sul-Americana, se ganhasse o Estadual, o responsável também seria o Mário. Ele que assumiu isso, trouxe para ele toda essa responsabilidade.

Se tivesse continuado no comando do futebol, demitiria o Odair neste momento?

– O culpado maior não é o Odair, o grande culpado é o Mário. Odair hoje no Brasileiro está em 10º, um aproveitamento muito melhor que o Diniz na época. Pode ser até que para frente piore, mas o Odair é produto do elenco que entregaram a ele. Técnico não faz muito essa opção, ele quer oportunidade de trabalhar, receber a remuneração, e aceitou o Fluminense, apesar de ter questionamentos. Eu tenho, mas não vou falar. Acho que é desagradável esse tipo de comentário, não estou vivendo o dia a dia.

– Se quiser discutir técnico, contratação de A ou B, vide os atletas do Cruzeiro rebaixado que vieram, que se discuta. Mas o Mário foi o grande responsável pelo elenco, assumiu o futebol sozinho, descartou um acordo politico que existia entre eu, ele e o grupo dele. E infelizmente o resultado está sendo bem ruim. Não estou lá, não converso com jogador, eu estou em casa. Mas não sou cego, vejo muito futebol. O (Vagner) Mancini não é um cara de grandes trabalhos, mas na minha opinião vem fazendo um bom trabalho com o Atlético-GO.

– Nosso time jogou bem? Não. Nesse aspecto, queria elogiar o técnico porque trouxe para ele a culpa. Isso também é uma forma de verbalizar, mas acho correto. Ele só não pode dizer que o responsável é o Mário senão vai ser demitido.

– Ano passado brigávamos contra o rebaixamento e concordamos em mudar. Surgiu a história do Oswaldo (de Oliveira), que foi aprovado pelo Angioni, pelo Mário e por mim, mas se revelou um equívoco. Não pelo Oswaldo, mas a torcida criou uma antipatia enorme. Ele teve um aproveitamento melhor que o Diniz, e o Marcão, melhor que o Oswaldo. O Ariel Holan (técnico argentino), eu efetivamente tive contato com ele e falei com o Mário no vestiário, mas a reação dele foi ruim, estava chateado com um problema familiar, e isso levou a mais um desgaste. Quando eu já estava fora, por que o presidente não manteve o Marcão? Aí surgiu de novo o nome do Ariel, e ele contratou o Odair.

A eliminação foi mais dolorida pelas falhas do Muriel?

– Muriel falhou, tudo bem. No primeiro gol acredito que sim, no segundo foi uma porrada à queima-roupa. Mas isso é uma análise técnica, tem o treinador de goleiro, se acharem que hoje o reserva é melhor, coloquem ele para jogar e o Muriel no banco, não tem problema nenhum. Agora, querer condenar um jogador que salvou o Fluminense ano passado, não porque veio comigo. Como o Orinho, que veio comigo e com a direção toda; o Luccas Claro, que hoje é considerado entre aspas o melhor zagueiro do mundo e estava lá esquecido; o Nenê, que apesar da idade é o artilheiro do Brasil hoje. Mas isso tem um conjunto da obra, do elenco.

– Esse ano perdeu o Evanilson, ano passado saíram Luciano e Everaldo. Você perder jogadores cria dificuldades para o clube. Entendo a necessidade de ter que vender seus melhores atletas da base para pagar salário. Enfim, isso é ruim. Eu lembro, até no próprio patrocínio, jogador da base que jogou mais tempo foi o Marcelo. Não me recordo desses jogadores de base que serviram para conquistas de títulos no profissional. O Fluminense sempre vende em condições inadequadas, de desespero. Lembro que o presidente dizia que tinha que vender o Pedro. Eu fui à reunião com ele, cheguei um dia e falei: “Minha preocupação é do ponto de vista técnico, vai ser uma m*…” Ele disse: “Mas tem que vender”.

Você em algum momento esse ano tentou uma reaproximação com o Mário?

– Já tentei umas quatro, cinco vezes. Ano passado, esse ano… Eu liguei na Taça Rio, o cumprimentei, ele mandou mensagem que era a vitória do amor, da dedicação. Mas ele sistematicamente foge de um encontro comigo. As pessoas pedem como se eu tivesse poder de chutar a porta, não faz meu perfil isso.

– As pessoas que me conhecem e conhecem o Mário diziam que nós dois juntos não duraríamos um mês. Durou um pouco mais. O comando do futebol era algo que estava combinado caso a chapa fosse Tenório e Mário. Eu tinha intenção de estar na coordenação do futebol, talvez até remunerado. Como o Tenório saiu, acabei virando o nome (para a vice-presidência).

– Faltando uns 20 dias para a eleição, falei para o Mário que não queria ficar na vice-presidência geral, achando que poderíamos ter problemas de relacionamento. Estava começando a sentir dificuldades de entendimento no futebol entre eu e ele e falei: “Eu saio, você coloca outro no meu lugar, e eu vou apoiar”. E ele: “Não, não vai ter problema nenhum, vai ser conversado tudo”. Infelizmente isso não aconteceu.

Ficar afastado assim não o incomoda? Continua não querendo sair para ser oposição?

– Foi criado um clima para que eu fosse sumindo do futebol de uma forma totalmente indelicada. Houve o problema do Diniz, depois o Fluminense perdeu para o Atlético-MG, e eu fiz uma reunião dura com os jogadores de cobrança. Podia ser menos dura? Podia, mas eu fiz. Eu não fiz nada para vazar. Mas quando querem, eles vazam. Não tem essa história de não poder cobrar. Eu não fui cobrado na Unimed? Faz parte. Tratei todos com respeito, mas fui um pouco mais forte, não tenho estilo frouxo.

– Quando cheguei, fiz um churrasco com eles (jogadores), foi uma confraternização muito legal. Mas na hora em que sou gestor e vejo a coisa indo para uma situação que não é desejada, tenho que me posicionar. Não posso ser omisso.

– Ficar afastado me incomoda muito. Até porque foi uma eleição, não vou dizer que foi difícil, mas nós tínhamos todas as chances de vitória, e isso aconteceu num capote. Tivemos o dobro de votos da outra chapa. Mas fica uma imagem triste do que foi prometido por nós. Se ele está cumprindo a parte dele, eu gostaria de mais uma vez pedir desculpas à torcida. Me sinto desconfortável porque meu nome está na situação e não posso fazer nada. Essa historia de virar oposição, não acho que seja o caminho nesse momento.



Por Explosão Tricolor / Fonte: ge

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